O meu melhor de 2025
Tem série, filme, livro, jogo e até figurinha de zap.
Sempre fui fascinado pela lei do esforço invertido. Às vezes chamo de “lei do avesso”. Quando você tenta se manter na superfície da água, afunda; mas quando tenta afundar, flutua. Quando prende a respiração, perde o ar — o que traz à mente um ditado antigo e muito negligenciado: “Quem tentar salvar sua alma há de perdê-la.”
— Alan Watts
Acabou o ano e não posso ir embora sem falar deles, os destaques do ano. Um post que é metade celebração e metade refletir sobre o ano que acaba — que foi ao mesmo tempo bom e ruim, mas isso fica para uma outra edição da newsletter.
Desta vez, me dei ao trabalho de ir anotando (quase) tudo que fui fazendo durante o ano e que caberia nesta lista, evitando o famigerado “putz, esqueci!” dias depois de apertar o enviar. Ou assim espero…
Sem mais delongas, vamos à lista!
Obs: Nada aqui é #ad, são todas Cris Dicas 100% orgânicas, mas se alguma marca quiser me patrocinar, bjo me liga.
Melhor compra
Todo ano eu tenho uma “melhor compra”, que vai desde uma coisa cara como este laptop onde estou digitando até um filtro de café reutilizável… que meses depois se mostrou um desastre. Mas, este ano, não tenho “melhor compra”. Não teve nada que eu olho e falo “caramba, que coisa legal, que acerto”.
Teve um momento em que cheguei a pensar “ah, aqui está ela, a Compra do Ano!”. Uma pequena luz de LED com sensor de movimento, carregada por USB, que eu colocava ao lado da minha cama e iluminava o caminho quando eu levantava de noite. Coisa linda, sensação de modernidade e qualidade de vida. Até que a bateria acabou e não consegui recarregar. Sei lá. Ficou a tristeza e a decepção.
Mas para não dizer que o ano foi assim, essa desgraça, vou adaptar a categoria e chamar de dinheiro mais bem gasto de 2025, que aí sim tem vários candidatos:
YouTube Premium
De um jeito ou de outro, assinamos vários streamings aqui em casa, seja pagando preço cheio ou com esses pacotes, bônus do cartão de crédito, operadora, etc. Ainda assim, o dinheiro mais bem pago é do YouTube Premium, que, ainda por cima, temos no plano família. Toda vez que uso o YouTube “normal” fico chocado com a quantidade de propaganda. Mas não é só isso, o Premium me permitiu aposentar o Spotify porque também traz o YouTube Music Premium (ou seja, economizou dinheiro!) que hoje acho que tem um algoritmo de recomendação bem melhor, além de uma biblioteca de músicas muito maior, especialmente as brasileiras.
Mas o grande vencedor de “dinheiro mais bem gasto de 2025”, não tem jeito, foi…
Minha saúde
Um dos meus memes desmotivacionais preferidos é um tweet dizendo algo como “Gente, fiz exercício hoje de manhã e infelizmente venho informar que me fez muito bem.” Eu odeio fazer exercício. Acho, acima de tudo, idiota, a mostra de que a civilização fracassou. Pagamos para ficar correndo sem destino (ou, pior ainda, em uma máquina que não sai do lugar) ou levantando pesos inúteis. Tudo porque “evoluímos” para passar o dia todo sentados.
Só que a idade chega e cobra seu preço. Por isso, nos primeiros meses de 2025, a Anna contratou um personal trainer indicado pela Jessica, seguindo a sabedoria de que não pagamos pelo exercício do personal: pagamos para ele bater na porta de casa duas vezes por semana. Aí não tem como fugir. Além disso, essa dinâmica eliminou uma das coisas que mais odeio em academia, que é conviver com outras pessoas ficar esperando o colega sair do aparelho, ver que ele não limpou, aquelas coisas. Fora o ambiente de academia, você sabe do que estou falando.
Durante as primeiras sessões de personal, percebi que estava “meditando” entre uma série e outra, parado, sentado ou deitado, esperando a próxima repetição. Entre aspas porque eu acabei entendendo que eu estava, talvez pela primeira vez na minha carreira de atleta, vivendo o tal do chapadinhas de endorfina — provavelmente não estar irritado de estar em uma academia, nem distraído com um podcast na orelha, que coloco para ficar menos irritado de estar em uma academia.
E não parou aí.
Quase no fim do ano, meu amigo Robinho mandou no grupo da galera que estava fazendo aulas de arco e flecha, respondi “foda! também quero!” e o resto é história olímpica.
(Quem prestar muita atenção vai ver que estourei um balão com este tiro, chupa Robin Rude.)
Tiro com arco (o nome bonito e oficial) é, acima de tudo, um exercício de atenção plena — assunto tão importante que foi o tema do episódio 100 do podcast. Se você não estiver ali, no momento, vai errar o tiro… e talvez levar um chlep da corda no braço que vai doer muito porque você não sabe colocar o protetor direito. Hipoteticamente falando aqui, claro, não que tenha acontecido comigo. Mais de uma vez.
Arco também é a arte da repetição, uma coisa que é meio difícil para mim, já que sou o cara do “ok, já entendi, acabou a diversão”.[1] Atirar com arco é encontrar a posição física e mental perfeita… e fazer sempre igual. Mirar é a parte mais fácil. Inclinação da cabeça, queixo, cotovelos, ombros, relaxar cada mão, soltar a corda sem realmente soltar a corda (só deslizar o dedo). Cada passo desse precisa estar perfeito, em um movimento contínuo. Sessenta vezes por treino.
Muito obrigado às minhas professoras, que além de atletas da seleção and recordistas, são muito pacientes com a gente kkkkrying.
Livros do ano
O livro do ano você já sabe qual é, né? Sim, ele, não podia ser outro.
Não leia esse livro se você não quiser passar a perceber coisa de rico em tudo. Veja, por exemplo, esta singela troca de mensagens que tive com o Michel.
Se você ouviu ou viu meu papo com o Michel no Boa Noite Internet sabe do que estou falando, desse desgraçamento da cabeça, essa aula.
Um livro gostosinho de ler, no tom de quem está quase te contando uma fofoca — mas, ao mesmo tempo, muito informativo.
Mas para não ficar só no óbvio, quero dar uma menção honrosa aqui de um livro que chegou a mim pela entrevista no podcast de entrevistas do NY Times e não consegui largar.
Minha relação com Sir Anthony Hopkins é: acho um baita ator e é isso. Nem posso me considerar fã, não acompanho filmografia e não sabia nada da sua vida. Mas ouvindo a entrevista e, depois, lendo a biografia, vi que a imagem que temos dele, basicamente um Hannibal Lecter amenizado, um cara duro, distante, às vezes até agressivo… não é muito distante da realidade. E, a melhor parte, ele sabe disso e demora décadas para entender.
O título “Até que deu tudo certo” me passou um tom de surpresa. De “Caramba, minha vida tinha tudo para dar errado e olha onde eu vim parar.” Quando criança no País de Gales, Tony Hopkins era tido como um imbecil sem futuro. Não tirava notas boas, não se relacionava com ninguém, não se interessava por nada. Até que encontrou o teatro. Final feliz. Não, mentira.
Apesar do sucesso nos palcos (logo virou pupilo do maior ator britânico do século, Laurence Olivier), a vida não se resolveu, porque dentro dele não estava resolvido e o livro me pareceu como esta grande jornada em entender e lidar com tudo isso. Primeiro de um jeito negativo, durão, “isso tudo de sentimentalismo é frescura, é melhor eu me fechar”, mas depois entendendo que essa foi, justamente, a caixa de ferramentas emocionais que seu pai e seus avôs galeses lhe passaram.
Me identifiquei muito com a história de Hopkins, sinal de que é um livro bem escrito, tão bem escrito que suspeitei que algum ghostwriter foi contratado — até pensar que não importa se foi ele mesmo que escreveu tudo aqui. Só não me identifiquei, felizmente, com um dos principais temas da biografia: o alcoolismo destrutivo.
A parte que me pegou em especial já aparece na entrevista do NY Times, e é esta aqui no livro:
Certa noite, estávamos assistindo ao programa Doc Martin, uma comédia dramática médica, ambientada numa cidade litorânea da Cornualha, quando Stella se virou para mim, apontou para o médico supersincero vivido por Martin Clunes e disse:
— É você!
O personagem Doc Martin, interpretado de forma brilhante por Clunes, tem dificuldade para se conectar com as pessoas e parece incapaz de medir palavras. Numa das cenas, sua namorada está mexendo numa caixa de fotos de família e ele pergunta:
— Por que as pessoas guardam fotos?
Ela responde:
— É isso que as pessoas fazem, Martin.
Quantas vezes me disseram coisas assim!
O público dizia que o Dr. Martin parecia estar no espectro autista. Stella acredita que eu tenho síndrome de Asperger — e provavelmente ela está certa, dada minha tendência à memorização e à repetição (terrazzo, BTX 698…) e a minha falta de emotividade. Mas, assim como qualquer homem estoico das Ilhas Britânicas, tenho alergia a jargão terapêutico. Ainda que o mundo prefira que eu aceite o rótulo de síndrome de Asperger, escolhi me ater àquela que considero uma designação mais significativa: antipático.
Na versão original, Hopkins se descreve não com “antipático” — uma palavra que imagino ser usada por aí quando falam de mim — mas algo bem mais sonoro: cold fish. Um peixe frio. Essa parte me pegou demais, especialmente porque ela aparece já no fim do livro, quando ele fez as pazes com a vida (mas não com sua única filha, do primeiro casamento) e precisou passar por toda sua jornada para conseguir tudo isso. É um cara feliz, mas, aos 87 anos, ciente de que o fim está próximo. E tá tudo bem. Até que deu tudo certo, quem diria.
Já o romance do ano, a obra de ficção mais delicinha de ler, foi A cabeça do santo, de Socorro Acioli, que ainda por cima tive o prazer e privilégio de ver falar no Rio2C. Realismo fantástico brasileiro como uma boa novela de Aguinaldo Silva, mostrando o nosso jeito de encarar o sobrenatural — aceitando que ele existe e não necessariamente é coisa do demo como Hollywood prefere mostrar.
Além disso, tivemos ótimos livros este ano no Clube de Cultura do Boa Noite Internet. Os que fiquei mais feliz em comentar foram A crise da narração (o primeiro do ano), Amusing ourselves to death e o último do ano, A sociedade do espetáculo. Nos três consegui explorar ao máximo a parte “comentado” mais do que “resumo” da proposta do Clube de “resumos comentados”. E foi onde recebi comentários do tipo “ufa, ainda bem que você trouxe esse livro, não ia conseguir ler por conta própria”. Não sei o que vocês querem ver em 2026 no Clube, vamos ver o que vem por aí (digam nos comentários ou via DM).
Séries do ano
Agora série nem precisa mais passar todo ano, que loucura, antigamente é que era bom, mas em 2025 pude ver episódios incríveis de The White Lotus, The Last of Us, Ruptura e O Urso (que teve uma temporada meio sei lá, mas enfim, melhor The Bear do ano), só que minhas séries preferidas mesmo foram inéditas.
Star Wars Skeleton Crew[2] ou, como prefiro chamar, Piratinhas do Espaço, trouxe finalmente uma série de Star Wars legal, sem contar Andor, claro, tão incrível que teve até edição especial do Clube, melhor série de Star Wars já feita.
Mas estamos aqui para falar de Skeleton Crew, que foi idealizada por Jon Watts (diretor dos filmes do Homem-Aranha-Tom-Holland) e vendida para a Lucasfilm como “Uma história de amadurecimento ao estilo da Amblin Entertainment, ambientada no universo de Star Wars”. Ou seja. Goonies no espaço, que deve ser a sinopse mais perfeita do mundo para meu gosto pessoal. A série é praticamente o oposto de Andor. Divertida, otimista, infantil no melhor sentido possível.
Pluribus me deixou totalmente desgraçado da cabeça, pensando em todas as analogias e conexões com o nosso mundo. Não vou dizer o enredo da história porque a descoberta é parte da diversão. Mas, se você me permite um pequeno spoiler, a parte que mais me deixou olhando para o horizonte em busca de respostas foi ver que a personagem principal diz que luta pela liberdade e individualidade, mas resolve que, no caso dela, isso significa encher a cara toda noite e ficar vendo Super Gatas.
Também segui vendo anime, órfão da série de 2023, Frieren e a Jornada para o Além, que volta agora em janeiro (eba). Continuo vendo One Piece em uma edição resumida feita por fãs e disponível por aí, estou na primeira temporada de My Hero Academia e curti as duas temporadas de Kaiju No. 8, meu último Qual é a boa? do ano no Braincast.
Mas nenhuma dessas foi a série do ano. Este troféu tão importante só pode ir para um programa em 2025:
Pablo e Luisão é a série que eu precisava, que o Brasil precisava. Comecei meio “será que é isso tudo mesmo?” e quando o Paulo Vieira quebra a quarta parede e começa a explicar para quem está assistindo como ele pensou na história — e como precisou dar uma amenizada na personagem da mãe — eu vi que a viagem ia ser boa.
O comentário que mais ouvi sobre a série foi “não acredito que aquilo tudo foi verdade” — e daí a genialidade de terminar cada episódio com Pablo, Luisão e Conceição reais oficiais contando que foi tudo aquilo mesmo… e muitas vezes pior.
Se isso não bastasse, ainda tive o privilégio de ver Paulo Vieira contando sobre como deu vida à série em um evento na SoHo House São Paulo e só posso dizer que ele é tudo isso mesmo. Um gênio de coração enorme, extremamente gentil e carinhoso. É meu “sonho dourado” de entrevista no Boa Noite Internet — exceto que provavelmente eu começaria a conversa do mesmo jeito que ele começou quando foi no Mano a Mano: “Não tem como isso aqui dar certo. Eu vou querer te impressionar, Mano, falar coisas inteligentes, virar seu amigo.” Aliás, recomendo muito essa entrevista.
Pablo e Luisão é uma série que fala de problemas sérios, de dificuldades, até mesmo de miséria, mas de um jeito ao mesmo tempo otimista e sem glorificação da pobreza. Na boa, se eu tivesse a vida que o Paulo teve, eu seria muito (mais?) revoltado da vida. Mas ele olha e fala: “É isso que a vida me deu, vamos fazer o melhor que dá”. Obrigado por isso, Seu Vieira.
Filmes do ano
Olha… Não teve, assim, um filme do ano. Vi alguns no cinema, Superman foi divertido, a corrida por Oscar foi legal, mas, assim, nada marcante. Talvez porque séries longas me acostumaram mal, de que cada personagem precisa ser desenvolvido intensamente.
Se você insistir que eu devo escolher um, vou dizer que Mickey 17 foi uma ótima surpresa. Talvez justamente porque é outro filme otimista, onde o protagonista sofre o tempo todo, mas não é amargurado. É engraçado, bonito e, pra variar, tem Mark Ruffallo (quase) roubando a cena do Robert Pattinson, que também manda muito bem.
Jogos do ano
Esse ano, principalmente ali no meio, joguei muita coisa, em várias plataformas. Finalmente consegui pegar o jeito em Dwarf Fortress e entrar no modo mental de que é um jogo de “contar histórias”, não de fazer a base perfeita. Contei o que aconteceu lá no Discord. 2026 vai ter mais.
Também passei um bom tempo com os amigos viajando em No Man’s Sky, o jogo que descrevo como um lindo e raso lago: muito conteúdo que parece incrível, mas que logo se vê que não tem profundidade. E, às vezes, tá tudo bem.
Muitas horas do segundo semestre foram vividas na Grécia de Assassin’s Creed Odyssey, que eu já tinha começado na época em que ligava meu PS4, mas agora no Xbox. Poucas coisas no mundo dos games superam a sensação de começar um Assassin’s Cleber. É como uma cama quentinha no inverno, onde você sabe que vai ser feliz.
Já o meu jogo do ano foi o mesmo escolhido pelas principais premiações do ano. Clair Obscur: Expedition 33. (Ler com sotaque francês e trente-trois bem carregado).
Quando o jogo começou, fiquei tão empaquitado que cheguei a escrever um post sobre a premissa da história. Um mundo onde todo mundo sabe que tem seus dias contados, o dia do gommage, a técnica de pintura para remover a tinta de um quadro para reaproveitar a tela.
Só que, meu zamigo… O que eu não sabia é que a história é muito mais que isso. Fala de família, escolhas e o que é viver de verdade. Mesmo o jogo sendo com a mecânica de “batalha por turnos” estilo Final Fantasy, eu joguei feliz. Joguei no “modo história” (o eufemismo do jogo para fácil)? Ah, joguei. E tá tudo bem.
Em um ano em que a indústria de jogos gigantes de estúdios caríssimos começou a ruir, desenvolvedores individuais ou estúdios novos e independentes, como a Sandfall Interactive de Expedition 33, fizeram a alegria de gamers como eu, fugindo das fórmulas e focando em história e personagens em vez de tentar criar uma máquina de fazer dinheiro para agradar acionistas.
Quer dizer… Em 2026 tem GTA 6.
Músicas do ano
Por essas e outras, segundo minha retrospectiva do YouTube Music, o álbum que mais ouvi esse ano foi a trilha sonora de Clair Obscur: Expedition 33, composta por Lorien Testard, seu primeiro trabalho profissional como compositor de games. (!!!)
Tudo bem, só que já tem tempo que parei de ouvir álbuns inteiros — e, ainda por cima, escuto música enquanto escrevo, o que pesa a conta pro lado das instrumentais.
A música que eu mais ouvi esse ano, ainda segundo a retrô do YouTube Music, é do ano passado, mas quando eu adicionei na minha playlist do ano, lá no comecinho, já sabia que ia ser a mais mais.
Para desespero cringe da pré-adolescente da casa, Rosé e Bruno Márcio foram meu prozac musical em um ano em que o k-pop chegou com força nos tiozões como eu, incluindo o mega-hit Golden das Guerreiras do KPop. Foi o Ano da Coreia no Brasil.
Nada disso fez essas músicas serem a Do Ano, porque a essa altura você já deve pelo menos suspeitar de quem levou o caneco. Será?
Nós é jeca mas é jóia, com Genesio Tocantins. Que é bem mais antiga que 2025, nem é original do Genesio (é do Juraildes da Cruz), mas é o tema de abertura de Pablo e Luisão, aquele pico de dopamina de “oba, mais um episódio” e da coisa maravilhosa que é ser brasileiro. É só ver o refrão pra entender de verdade o que é ser patriota, não isso que certas pessoas dizem por aí.
Se farinha fosse americana, mandioca importada.
Banquete de bacana era farinhada.
O Brasil é foda. Daqui a pouco a gente fala mais disso.
Aplicativo do ano
Em breve vou lançar uma edição atualizada da minha lista “apps que uso no meu fluxo de trabalho”, mas um aplicativo dominou minha mente este ano e, vejam só, é um totalmente old school, daqueles que nem interface gráfica tem.
É o Claude Code, a versão “interface linha de comando” da minha IA preferida — e que em 2025 humilhou todas as outras com o modelo Opus 4.45.
Não é só uma questão de interface nerdola. O Cláudio Código — e outros programas do tipo, como o GPT Codex, Gemini CLI e Opencode — são quase como uma IA que roda no meu computador. “Quase” porque continua usando os servidores da Anthropic, Google, etc. para fazer a parte “inteligente” da coisa.
Só que não é isso que importa, mas sim que ele consegue rodar programas locais (desde que também funcionem no terminal) e, o famoso game changer, como diriam na Faria Lima, ele lê e escreve meus arquivos locais.
Então eu consigo fazer coisas como:
Eu já falei desse assunto na newsletter do Boa Noite Internet?
Faça fact-checking desse arquivo usando a linha de comando do Perplexity.
Transforma essa edição da newsletter em post do LinkedIn.
Pega esse vídeo com um corte do Boa Noite Internet que a Jessica fez, chama esse app de linha de comando que vai acionar um servidor de transcrição de vídeo para texto. Pega esse texto, entende o que foi dito no corte. Lê a sinopse do episódio que escrevi e está no arquivo de projeto do episódio — que você sabe qual é porque tem um guia de como funciona esse meu projeto inteiro — e escreve o texto de descrição do Instagram. (Dá até pra fazer ele subir pro Instagram direto, ainda chego lá.)
Fora, claro, todas as outras coisas que eu já fazia usando a interface web.
Outro ponto importante é que, como ele consegue rodar qualquer linha de comando no meu computador, eu posso escrever programas que vão ajudar no processo de escrita, como “encontre todas as vezes que eu menciono livros e coloque meu link de afiliados”. Calma que melhora. Como as “command line interfaces” das outras IAs são linhas de comando, se eu quiser, posso usar o Claude para chamar o Gemini (para, por exemplo, fazer tarefas que eu ache que o Gemini é melhor, ou só para economizar minha assinatura mesmo). É o que eu faço com o Perplexity, o “buscador de IA”.
Repare que eu nem falei de código, mas eu estou usando muito o Claude Code para programar. Desde que o ChatGPT chegou para ficar, eu venho tentando usar para programação com resultados que eu descreveria como “frustrantes”. Todas as LLM geram códigos lindos e estruturados… mas que nunca funcionam.
Com o Opus 4.5, isso mudou. Já fiz vários projetos simples que rodaram de primeira. Em um deles, eu vi um mini app que mostra quanto ainda falta do limite de uso do Claude, mas só funcionava para Mac. Peguei a captura de tela, subi em uma pasta e, essencialmente, falei “faz igual”. Em duas horas estava tudo pronto.
Isso aqui já está ficando longo demais para um simples “melhores do ano”, mas quem está participando do IA em Curso já reparou que estou surtado com esse assunto. Falei um pouco de “vibe coding” (e como tenho questões com esse termo) no Braincast sobre Palavras do ano e, na semana seguinte, eu, Ana Freitas e Alexandre Maron soltamos o verbo sobre IA no penúltimo programa do ano.
Ah! Se você ainda não sabe, IA em Curso é a comunidade de letramento contínuo em IA que lancei com a Ana Freitas no fim de novembro e já tem centenas de pessoas aprendendo com a gente tudo sobre IA na real, sem hype nem catastrofismo. Por aqui, 2026 já começou, passa lá.
Figurinhas de Zap do ano
Uma vez estava conversando com um colega ex-Meta que contou da dificuldade em explicar para os gringos como nós usamos o WhatsApp aqui no Brasil. Ele levou o desejo de milhões de pessoas de poder organizar as figurinhas em pastas, no que o gringo retrucou: “Ué, mas elas já são organizadas em pastas quando você compra o pacote.”
¡Cállate, gringo!
Aqui a gente faz figurinha, cara. (Dessa conversa para cá, o Zap agora tem um botão “criar figurinha” que é bem tosco e não faz figuras animadas.)
Por isso, se esta premiação já teve a categoria “emoji do ano”, que sintetizava meu sentimento na temporada, agora ela evolui para Figurinha de Zap do Ano. E se o critério é, justamente, quem melhor representou o sentimento do ano, o grande vencedor é ninguém menos que ele, Zeca Pagodinho Resignado:
Se figurinha fosse ficando gasta e desbotada por tanto uso, que nem foto ou fita cassete, essa aí já estava branca. Eu usei demais, a ponto de eu várias vezes pessoalmente tentar imitar essa cara. Esse foi o clima de 2025. É, né?.
Antes de ir para a próxima categoria, quero trazer aqui como menção honrosa uma figurinha que eu chamaria realmente de a melhor figurinha, porque se você olhar pra ela e não der pelo menos uma risadinha, você é mais do que um peixe frio.
Muita gente mereceu receber essa figurinha esse ano — inclusive eu. Mas sério, olha isso. Olha essa cena, que coisa… maravilhosa. Tá triste? Olha pra essa figurinha e sua depressão vai passar, nem que seja por alguns segundos.
Boa Noite Internet do ano
Este ano, o Boa Noite Internet acabou tendo o primeiro semestre dedicado ao formato de ensaios e o segundo ao de entrevistas. Eu tive feedbacks muito bons dos dois, mas em especial da fase de entrevistas, com gente de todos os cantos vindo elogiar o que viu. Obrigado, eu ainda não sei lidar com elogios desse jeito. Mas obrigado.
Gostei muito de escrever os ensaios desse ano, mesmo já estando na fase criativa do “eu já falei tudo o que tinha para falar”. Todos os ensaios tiveram um número de plays mais ou menos parecido (menos o de carnaval, ninguém quer ouvir minhas histórias de carnaval, nem Copa), mas o mais ouvido acabou sendo O medo de falar o óbvio, de março, provavelmente porque esse título trouxe mais gente do que o normal pelo algoritmo do Spotify. Sim, agora podcast também tem algoritmo. 😫
O medo de falar o óbvio
Falar o óbvio é o maior pecado no mundo do conteúdo? Neste episódio decidi encarar um medo que muita gente carrega: o de repetir o que “todo mundo já sabe”. Mas será que todo mundo sabe mesmo? E será que isso importa?
Já na era de entrevistas, você já sabe qual foi o mais ouvido, né? Juntando todas as plataformas, A vida do rico é diferente — com Michel Alcoforado, do começo de setembro, ganhou e não foi de pouco não. Obrigado, Michel, pela participação (e por dizer que não perde uma newsletter, agora sinto a pressão toda vez que escrevo) e pelo incentivo para voltar a fazer entrevistas. Você ajudou a melhorar este ano.
Mas… olha que interessante. Se formos olhar a quantidade de plays na plataforma “núcleo duro” do Boa Noite Internet, sem algoritmo, quem escuta em tocadores de podcast que não são o Spotify, o episódio do Óbvio trouxe mais gente do que qualquer outro, incluindo o do Michel. Por uma margem pequena, mas ainda assim, foi o campeão.
Só que o episódio sobre ricos agradou demais ao algoritmo, o que fez dele meu único sucesso real no YouTube, com mais de 33 mil visualizações (três mil destas só em dezembro). No Spotify, ele teve mais plays ainda, sendo que aproximadamente 1 em cada 4 foram em vídeo.
Vendo os analytics, fica claro que o Brasil está completamente alcoforizado das ideias e quer ver mais Michel. A principal fonte de tráfego no YouTube foi de quem já tinha visto outra entrevista dele e recebeu o Boa Noite Internet como sugestão. Legal, né? Fica aí o ensinamento de, em 2026, trazer mais pessoas que são o assunto do momento, certo?
Sim, claro. Mas… Primeiramente, a quantidade de pessoas que virou seguidor, assinante, etc. foi imperceptível. O episódio seguinte, com a Marina Clark, até performou acima da minha baixíssima média no YouTube, mas depois disso voltamos à normalidade. A mesma coisa no Spotify. Ou seja, toda a corrida por “migrar para o vídeo” continua sendo boa para as plataformas, não necessariamente para quem cria.
Segundamente, te convido a ver os comentários no YouTube e rir (assim espero) comigo com a quantidade de gente dizendo “esse entrevistador é péssimo” porque, olha o absurdo, eu resolvi conversar com o Michel.
É um público totalmente diferente do normal do Boa Noite Internet — e tá tudo bem, só que eu não vou mudar por isso. Até porque uma das maiores alegrias do ano foi ver o agradecimento de quem eu entrevistei, de como gostaram da experiência. (ou, talvez, sejam só mentirosos)
Ouvi dizer por aí que 2026 vai não só ter mais entrevistas do Boa Noite Internet, mas há também rumores nos corredores do mercado de spinoffs do formato. Quem beber, verá. O formato de ensaio ainda é meu xodó, mas estou sempre na dúvida se não é aqui, na newsletter, o melhor lugar para ele viver. Opina aí.
Frase do ano
Todo ano, uma frase me pega de jeito, morando sem pagar aluguel na minha cabeça. Quem estava aqui ano passado vai lembrar que a frase de 2024 foi “amar é aceitar o que é”, do monge jainista Satish Kumar — mas que ouvi da boca da minha amiga Helena Galante, então no meu coração, a frase é dela. 2024 foi O Ano da Aceitação.
Em 2025, vamos dar uma guinada e premiar uma frase que é muito mais coletiva e dá o tom do que foi o ano não só para mim.
“Deus me livre não ser brasileiro.”
2025 com certeza foi um ano complicado no mundo. Esta semana fui jantar com um amigo brasileiro recém-naturalizado estadunidense que lembrou que Trump não está nem há um ano no poder neste segundo mandato. “Ainda faltam 3 anos e 1 mês”.
O sonho americano morreu pelas mãos dos próprios ricos de lá, que rifaram princípios básicos da narrativa nacional — como liberdade de expressão e ser o “farol da democracia” — em troca de dinheiro e poder. Falei disso no último É Sobre Isso do ano.
Coincidência ou não, muito brasileiro voltou a sentir orgulho de si, incluindo as partes consideradas toscas pela elite financeira e cultural que acha Orlando ou Londres mais legal.
Andam falando que nóis é caipira
Que nóis tem cara de milho de pipoca
Que o nosso rock é dançar catira
Que a nossa flauta é feita de tabocaAndam falando que nóis é butina
Mais nóis num gosta de tramóia
Nóis gosta é das menina
Nóis é jeca mais é joia
O Brasil é foda, bicho, e em 2025, devagar, com a ajuda de caras como Paulo Vieira e João Gomes, o pessoal do sudeste começou a cair na real. Nem que seja por falta de país pra gente pagar pau em vez de valorizar o que é nosso.
Por 2025 é só
Como sempre acontece, este “melhores do ano” é não só uma celebração do que passou, mas, é claro, um sinal do que entrou na minha cabeça esse ano e vai impactar o seguinte. Quero saber se alguma das coisas que falei aqui despertou sua curiosidade e você quer ver durante o ano, no podcast e na newsletter.
Muito obrigado por vir comigo em mais uma jornada, a sétima desde a fundação do Boa Noite Internet. As coisas seguem mudando, como deve ser.
Um feliz ano novo, que você passe cercado de pessoas que ama. O resto é lucro.
Cuidem de si, cuidem dos seus. Até ano que vem.
crisdias
Talvez isso aconteça quando eu ficar bom no esporte, mas pelo que tenho visto no YouTube, ninguém fica 100% bom nisso. Exceto o miserávi do Marcus D’Almeida, que acerta tudo, o tempo todo. Ridículo.
Tecnicamente lançada em 2 de dezembro de 2024, mas que só parei para ver em janeiro.
















Agora falando sério. Cris tem contribuído muito pro meu ano agridoce ter sido mais doce do que ácido.
Obrigado pelas percepções, entrevistas, ensaios, Cris Dicas e principalmente por reforçar minha percepção que não estou louco sozinho.
First!