Nos distraindo até a morte: próxima parada do Clube de Cultura do Boa Noite Internet
Um mundo onde até as coisas mais sérias precisam ser divertidas.
Aqui estamos. Nos divirtam.
— Nirvana
A próxima parada do Clube de Cultura Boa Noite Internet vai ser diferente. Desta vez, vamos encarar "Amusing ourselves to death: Public discourse in the age of show business", de Neil Postman.
Diferente porque é a primeira vez que trago um livro que não está disponível em português. O que vocês acham? Pode ser uma boa oportunidade para o Clube, termos livros considerados “nichados demais” para o Brasil.
Os resumos comentados podem servir como ferramenta para quem não domina inglês ou prefere não ler um livro inteiro em outro idioma. A ideia é que todo mundo possa participar das discussões, independentemente do nível do Duolingo.
Quem foi Neil Postman
Neil Postman (1931–2003) foi um crítico cultural americano, professor de comunicação na Universidade de Nova York e um dos pensadores mais influentes sobre mídia e educação do século 20. Formado em literatura inglesa, Postman dedicou a carreira a estudar como as tecnologias de comunicação moldam a sociedade e a cultura.
Autor de mais de 20 livros, incluindo “Teaching as a subversive activity”, “Technopoly” e “The Disappearance of Childhood”, Postman sempre questionou o otimismo tecnológico vigente. Postman não era contra a tecnologia em si, mas alertava para suas consequências culturais não intencionais. Para ele, toda tecnologia tem um viés — ela favorece certas formas de conhecimento e elimina outras.
Por que este livro?
“Amusing ourselves to death” é um dos livros que mais impactou minha maneira de ver o mundo, uma obra fundamental para o letramento midiático. Anos depois da minha primeira leitura, sigo vendo a realidade pela lente de Postman. Sua tese central é de que nossa cultura de mídia de massa transformou tudo em entretenimento. Política, educação, religião, jornalismo — tudo precisa ser “divertido” para manter nossa atenção.
Postman escreveu o livro em 1985, quando a televisão era a “mídia vilã”, rainha da atenção nos lares. Décadas antes das redes sociais, ele já alertava para os perigos de uma sociedade viciada em estímulos visuais e entretenimento constante — imagina o que ele diria sobre o TikTok e os stories. Ele argumenta que nossa sociedade transformou-se numa forma de vida dedicada totalmente ao entretenimento. Como resultado, perdemos nossa capacidade de pensar seriamente sobre questões públicas, porque elas são “chatas” e não prendem nossa atenção.
O livro não fala para sermos contra diversão ou tecnologia, mas que precisamos reconhecer quando o meio de comunicação molda — e distorce — a mensagem. Será que conseguimos ainda ter conversas sérias numa cultura que exige que tudo seja espetáculo? Postman antecipou nossa era da atenção fragmentada, do arrasta pra cima e da política como reality show. O livro nos ajuda a entender não apenas o que aconteceu com nosso discurso público, mas como chegamos até aqui.
Após lermos Harari, Han e Anna Lembke, “Amusing ourselves to death” entra como mais uma peça no nosso raciocínio sobre o mundo contemporâneo: todos esses autores, de formas diferentes, falam sobre como a tecnologia e o entretenimento reorganizaram nossa maneira de viver e pensar.
Agenda
Vamos começar já nesta semana, a partir do dia 6 de junho:
Semana 1: Capítulos 1, 2 e 3 — Os fundamentos da tese
Semana 2: Capítulos 4 e 5 — Televisão e transformação cultural
Semana 3: Capítulos 6, 7 e 8 — Educação, religião e política como show
Semana 4: Capítulos 9, 10 e 11 — Resistência e futuro do discurso
Como funciona o clube
Para quem é novo por aqui: a cada sexta-feira publico resumos comentados dos capítulos da semana. É então que vem a melhor parte, nos comentários, onde exploramos as ideias do livro e como elas se aplicam ao nosso mundo atual.
O Clube de Cultura do Boa Noite Internet é um benefício exclusivo para apoiadores do Boa Noite Internet. Se você ainda não faz parte, esta pode ser a hora de começar. Apoiando agora, você tem acesso a todas as discussões anteriores: Resista, não faça nada, Quatro mil semanas, Nexus, A crise da narração, Nação dopamina e Religião para ateus.
Até sexta-feira,
crisdias
Ler em inglês é mais desafiador mas vamos para mais um com o clube 💪
Topei. Comprei. Vou começar.