O problema das mudanças é que elas não acontecem imediatamente
Quero acordar amanhã ver que "o progresso" já chegou
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
— Belchior
Segunda-feira foi a terceira e última aula do Apresentashow, achei um sucesso. A última aula foi bem prática, o pessoal abriu suas apresentações para todo mundo comentar. Aprendi muito com a turma e já estou pensando no que mudar para a próxima. Ano que vem, aguarde.
Por outro lado, juntando o curso e outros jóbes da firma, confesso que estou mentalmente esgotado. A cabeça parece gelatina e nem posso botar a culpa no anglicismo do momento, o brainrot, a cabeça podre depois de ver tanto conteúdo fast food em rede social. Eu nem consumo tanta rede social assim. A real é que não tenho consumido nada de nada, é trabalho e joguinho — além de uma vida social no mundo de verdade mais ativa este ano. Mas falaremos disso em dezembro, quando vai rolar a tradicional retrospectiva do ano.
Parte da exaustão também vem dos dois ciclos eleitorais que tivemos, eleições para prefeito e para presidente do mundo. Ver, mais uma vez, o fogo amigo da esquerda (que comentei no segundo Tem Que Acabar do Braincast), ver que as pessoas não querem discutir nem mudar nada, só querem “se aparecer”. Deixa pra lá. Costumo dizer que sou um anti-Grouxo. Só quero ir em clubes que me aceitam.
Quanto mais escrevo os resumos comentados do Nexus, melhor compreendo uma coisa de que sempre falei: a verdade pode até existir, mas ela é envolvida pela opinião. Existe a verdade, mas ela é tão grande e detalhada que nós vivemos a descrição da verdade (is this pauta?). O universo “é como é” e nós tentamos explicar do melhor jeito possível. Não adianta falar para uma pessoa “isto não é verdade” se o que ela está vivendo não bate com aquela explicação da verdade.
Mas outra coisa que sempre digo é “a história segue seu rumo”. O cerumano tem uma dificuldade gigante de viver no presente, está sempre ansioso com o futuro ou revivendo o passado para buscar erros. Ao mesmo tempo, tem esta tendência a achar que “vai ser assim para sempre”. Vivemos pensando “ah pronto, agora vai ser assim daqui pra frente”. De que tudo “veio para ficar”. A história segue seu rumo, as mudanças acontecem, talvez não na velocidade que alguns gostariam — e, como falamos no podcast com o Tulio Custodio, para alguns a velocidade deveria ser negativa, mas enfim.
Por conta de tudo isso, achei que seria legal esta semana trazer um texto que publiquei aqui na newsletter em 2021. É no formatinho “isso aqui poderia ter virado um ensaio do podcast, mas gastei a pauta” — tem até o formatinho de atos. Fala de mudanças, como elas são difíceis, mas acabam acontecendo. Como tivemos vários novos assinantes este ano, acho que vai ser inédito para muita gente. E serve de lembrete que, se você apoia o Boa Noite Internet, tem acesso a todo o conteúdo já publicado nestes seis anos, é só ir na parte “Arquivar” do site — que é a tradução tosca do Substack para “archive”.
Entre as estradas de 1967 e 2054
Minority Report: A Nova Lei é um daqueles filmes que cumpre muito bem o papel da ficção científica de ilustrar o mundo futuro enquanto fala do mundo atual. A grande premissa da história é de que há uma tecnologia (indistinguível da mágica) que permite ver crimes antes que eles aconteçam, trazendo daí o questionamento se é correto punir alguém por alguma coisa que ainda vai fazer. É uma bela discussão filosófica, mas passados quase 20 anos do seu lançamento (!!!) a tecnologia do filme que mais usamos em conversas, PPTs e até aqui nessa newsletter, é a dos algoritmos que formam nosso perfil de consumidor e oferecem um catálogo de produtos específicos para o nosso gosto — afinal de contas essa é a parte do filme que virou verdade, uma tecnologia impensável para nós em 2002, mas hoje totalmente lugar-comum em qualquer rede social com feed1.
Continue a leitura com um teste grátis de 7 dias
Assine Boa Noite Internet para continuar lendo esta publicação e obtenha 7 dias de acesso gratuito aos arquivos completos de publicações.