Faça o que você ama e ainda vai ter que trabalhar todos os dias pelo resto da sua vida
Resumo comentado de “Não aguento mais não aguentar mais”, capítulo 4.
Esta é mais uma edição do Clube de Cultura do Boa Noite Internet para o livro Não aguento mais não aguentar mais, onde analisa como os millennials viraram “a geração do burnout”.
Toda semana envio um resumo comentado e debatemos nos comentários. Já passamos pela introdução do livro, com as bases da tese de Petersen, vimos como os baby boomers, os pais dos millennials, foram criados e como isto impactou a criação dos próprios millennials, com a visão de que deveriam ser mini-adultos. Esta semana estamos falando sobre carreira, com um capítulo sobre a busca por diplomas universitários e, agora, sobre como “trabalhar com o que ama” acabou virando uma péssima ideia.
Se a pessoa se sente criada para determinado trabalho e pensa que o destino a levou até ali, então rejeitar esse chamado seria mais do que uma escolha ocupacional; seria uma falha moral, um abandono negligente daqueles que necessitam de seus talentos, habilidades e esforços.
— J. Stuart Bunderson e Jeffrey A. Thompson
Em 2005, Steve Jobs subiu ao palco da formatura da Universidade de Stanford, na Califórnia, e cristalizou uma mentira que ia definir uma geração. “A única maneira de fazer um grande trabalho é amar o que você faz”, disse ele aos formandos. “Se você ainda não encontrou o que é isso, continue procurando. Não aceite nada menos.” O discurso viralizou antes mesmo de inventarem este termo. Virou mantra, pôster motivacional, legenda de LinkedIn. Jobs não inventou a ideia, mas a embalou perfeitamente para consumo millennial.
Se vamos passar a maior parte do dia trabalhando, o ideal é que ele não só seja legal, mas vá ao encontro do nosso potencial e nos torne seres humanos melhores. Assim como os pais dos millennials criaram expectativas irreais para seus filhos, estes esperaram do trabalho algo que nenhuma outra geração teve.
A retórica do “Faça o que você ama e não vai trabalhar um dia sequer na sua vida” é uma armadilha para o burnout. Ao disfarçarmos o trabalho na linguagem da “paixão”, somos impedidos de pensar no que fazemos como aquilo que verdadeiramente é: um ofício, não a totalidade de nossas vidas.
Os millennials foram criados para buscar não apenas um emprego, mas um “emprego legal”. Algo que impressionasse os pais (estável, bem remunerado) e também os amigos (numa empresa “descolada”). O trabalho deveria ser simultaneamente seguro e aventureiro, lucrativo e significativo. Tinha que valer todos aqueles anos de otimização infantil.
Mas o que exatamente torna um emprego “legal”? São os trabalhos visíveis, que agregam capital social e cultural. Podem ser altruístas (médicos, professores, bombeiros), descolados (cervejeiros artesanais, curadores de museu) ou autônomos (freelancers, empreendedores). São os empregos que provocam um “nossa, que legal!” quando mencionados em conversas. Até servir mesas pode ser legal — mas só se for no restaurante certo.
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