“Amusing ourselves to death”, o fim
Capítulos finais e a minha conclusão sobre o livro da vez do Clube de Cultura do Boa Noite Internet.
Chegamos na semana final do Amusing ourselves to death no Clube de Cultura do Boa Noite Internet, com um capítulo sobre educação e as conclusões de Neil Postman e também as minhas.
São os capítulos:
Ensino como uma atividade divertida, onde vemos que Postman profetizou que a TV transformaria a educação em entretenimento raso, mas quarenta anos depois descobrimos que a sala de aula sobreviveu justamente porque a tecnologia não entregou o que prometia. O capítulo examina como os “três mandamentos da TV educativa” de Postman foram quebrados pelo streaming e YouTube, enquanto edutubers e gamificação criaram novos desafios entre profundidade e visualizações.
Um dos motivos da profecia de Postman não ter se concretizado foi, justamente, porque ele estava certo: a TV é uma péssima educadora. Pais e professores perceberam que crianças educadas apenas por telas não iam muito longe. Faltava algo que nenhuma tecnologia conseguia substituir: interação, feedback imediato, ajuste fino da explicação para cada dúvida. Em outras palavras: humanidade. A TV não responde perguntas nem acolhe. Ensinar é mais do que decorar as margens do Amazonas. Foi assim que a sala de aula sobreviveu.
O alerta huxleyano, que encerra o livro explorando como a profecia de Aldous Huxley sobre uma sociedade controlada pelo entretenimento se concretizou de formas que nem Postman poderia prever. Este capítulo volta aos temas do prefácio, contrastando as distopias de Orwell e Huxley e mostrando que vivemos não sob a bota de um ditador, mas seduzidos de nossa própria diversão. Postman faz um esforço de otimismo e propõe remédios.
Quando alguém bate na sua porta às três da manhã, você sabe que algo está errado. Quando o governo censura jornais, proíbe livros, prende dissidentes, temos séculos de experiência em resistir. Milton, Bacon, Voltaire, Goethe e Jefferson nos ensinaram a reconhecer e combater tirania. Mas e quando ninguém bate na porta porque estamos ocupados demais assistindo Netflix? E quando não há censura porque ninguém tem mais paciência para ler? E quando não precisam prender dissidentes porque eles foram reduzidos a influencers disputando likes?
E, fechando tudo, minhas conclusões sobre Amusing Ourselves to Death, onde compartilho reflexões após reler o livro de Neil Postman 40 anos depois de sua publicação. Falo de como as previsões de Postman se confirmaram e se transformaram na era digital, questiona sua nostalgia pela cultura impressa e examina como o modelo de receita publicitário moldou nossa epistemologia do sensacionalismo.
Meu maior incômodo ao ler este livro é o tom persistente de "antigamente é que era bom" que permeia todo o livro. Postman romantiza a cultura tipográfica como se fosse um período dourado do pensamento humano, raramente reconhecendo seus problemas fundamentais. Onde estavam as mulheres nesses grandes debates do século 19 que ele tanto admira? E os negros? E os pobres? A cultura impressa que Postman idealiza era um clube exclusivo de homens brancos (americanos) diplomados discutindo entre si.
Espero que você tenha gostado de mais esta edição do Clube de Cultura do Boa Noite Internet. Este é um livro que considero fundamental no letramento midiático, mesmo tendo sido escrito 40 anos atrás. Este distanciamento nos permite ver o que se sustentou, longe dos “guias práticos” de hoje em dia, que normalmente focam mais em hacks de engajamento ou catastrofismo.
Semana que vem teremos uma nova edição do Clube, diz nos comentários quais assuntos ou autores você gostaria de ver por aqui.
Até lá,
crisdias