Era um sábado nublado em São Paulo. A gente estava no parque já tinha mais ou menos uma hora. Eu deitei na grama, sentindo uma… felicidade? Não sei. Mas era bom. As folhas das árvores em volta pareciam mais 3D do que o normal. Eu conseguia ver a distância entre cada folha e as outras, e eu nem estava tão perto assim das árvores. Aí eu olhei para cima… e vi.
O teto do estúdio. Sabe Show de Truman, o Show da Vida? Onde o Jim Carrey descobre que ele passou a vida toda preso em um reality show? Pois é, eu vi o teto do estúdio. Só que como a gente está em 2024 e não em 1998 — que é quando o filme foi feito — o teto do estúdio não é feito de passarelas de metal e holofotes. A tecnologia é aquela do Mandalorian, uma grande tela de LED em volta de tudo, que se move para compensar a perspectiva da câmera. O céu, na verdade, é só uma tela de TV.
Eu ri, porque eu sabia exatamente o que estava acontecendo e que, é claro, o céu não é de LED nem nada, era só uma ilusão visual criada pelo Psilocybe cubensis, o famoso “cogumelo mágico” que eu tinha ingerido na hora que estacionei o carro. Não que eu estivesse viajandão, muito louco nem nada, eu estava totalmente no controle de tudo que estava acontecendo. Tanto que um pouco antes, enquanto eu estava ali relaxado na grama, eu vi um cara suspeito vindo para o lado onde a gente estava e peguei rápido minha bolsa que estava dando bobeira no chão.
Falar de cogumelos mágicos que nem a gente vai fazer hoje aqui no Boa Noite Internet — e falar também de outras substâncias psicoativas como LSD, ecstasy, ayahuasca é complicado. Porque a gente está entrando no território da ilegalidade ou, pelo menos, da não regulamentação. Não pode. Quer dizer, pode. Porque Psilocybe cubensis dá em qualquer lugar e o Brasil não tem regulamentação específica sobre cogumelos. Mas eu não sei de nada, não estou falando para você fazer nada, tá? Tudo o que eu posso dizer é que o cogumelo mágico mudou a minha vida. Eu hoje em dia faço microdose, uma quantidade de cogumelo que não causa efeito nenhum, não vejo teto do Show de Truman nem nada, mas eu fico…
Bem. Quem me ajudou a entender isso inclusive foi uma conversa que rolou no Discord do Boa Noite Internet enquanto o pessoal trocava ideia sobre psicodélicos. Na época da conversa eu já estava começando na microdose, achava legal, mas não sabia o porquê. Aí veio a informação que explodiu a minha cabeça: um dos lugares onde o cogumelo mágico mais atua é na rede de modo padrão, que sim, você já ouviu eu falar dela aqui no Boa Noite Internet, no episódio A voz na minha cabeça. A rede de modo padrão é a parte do cérebro que controla o ego e, por isso, gera essa desgraçada dessa voz. E com a microdose, não é que elas sumiram, não é que nunca mais tive ansiedade nem depressão… Mas deu uma acalmada. Às vezes ela fica só falando amenidades e me deixa em paz.
O bom daquele dia no parque não foi ver o teto do show da vida nem nada. Foi ter uma pequena amostra de um efeito famoso dos psicodélicos: a dissolução do ego. Cada pessoa tem a sua experiência, cada um é seu cada um, mas no meu caso foi entender que eu não sou nada, eu só estou. Que viver é pular de um estado para outro e que — pelo menos ali vivendo a magia do cogumelo — eu podia deixar de ser o que eu acho que sou e… mudar. Não que eu vá “manifestar” que agora eu um rico CEO, nada disso. É só que a gente não precisa se prender a estados emocionais.
No fim da viagem — que, de novo, foi totalmente sob controle, eu sabia exatamente o que estava acontecendo, eu não vi elefante rosa nem nada — quando acabou eu entendi a expressão “abraçar árvore”, porque eu estava com uma vontade real de agradecer a companhia de uma árvore que ficava perto de onde eu estava. Eu entendi que eu e ela não somos muito diferentes.
Depois desse dia eu virei o quê? Eu virei o cara chato que só fala de cogumelinho. Você teria 5 minutos para ouvir a palavra do Psilocybe cubensis? Foi numa dessas que um amigo me deu de presente de aniversário o livro Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira, escrito pelo Marcelo Leite, colunista da Folha de São Paulo. O livro traz histórias de pesquisadores e pacientes brasileiros que usam os psicodélicos não para ficar mucholokos e ver o teto do universo, mas para conseguir lidar melhor com doenças como depressão, dependência química e até stress pós-traumático.
Eu devorei o livro e resolvi chamar o Marcelo para conversar no Boa Noite Internet, me aprofundar em alguns assuntos e dar uma tietada básica nesse cara que tem mais de 40 anos de carreira no jornalismo.
O papo foi tão bom, tão bom, que a gente quase estourou as duas horas de estúdio e muita coisa acabou de fora nessa edição — e ainda assim esse episódio ficou grandinho, você deve ter visto aí no seu tocador né?
Mas se você apoia o Boa Noite Internet é só acessar aí o seu feed personalizado, secreto, pessoal e intransferível e escutar a entrevista completinha. Assim você não só ganha acesso a vantagens exclusivas, também ajuda o Boa Noite Internet e mostra para o mundo que histórias como essas que a gente conta são importantes.
Lembrando que é isso, só um papo, se você achou interessante o que a gente falou aqui, procure se informar mais, faz aquela consulta médica para ver se a sua saúde está em dia, se não tem contra-indicação nem nada, aquelas coisas.
Compartilhe esta publicação