Uma manchete de abril de 2023 do Extra alertava: "Brasil já tem mais influenciadores digitais do que advogados e médicos". Os números vieram de uma pesquisa da Nielsen feita em 2022 e falam de mais de 10 milhões de pessoas que se dizem criadores de conteúdo, o que daria oito vezes mais do que advogados e 20 vezes mais do que médicos.
Essa é uma conta bem injusta. Para se dizer creator você só precisa ter uma conta em aplicativo, não precisa de anos de faculdade nem prova da OAB. Mas enfim, taí o dado. O Brasil é o segundo país do mundo com mais influenciadores, creators, blogueiros… cada um chama de um jeito e só isso já dava assunto para um podcast inteiro.
O que importa é que viver da própria imagem — em tempo integral ou não — virou um meio de vida que muita gente resolveu seguir no Brasil. Ser famoso, chamar a atenção, ter muitos seguidores… e depois vender essa influência para patrocinadores.
Por exemplo, o BBB — que terminou na semana em que esta entrevista foi gravada. A gente costuma falar que as pessoas entram no BBB para virar ex-BBB. Já se entra na casa com um plano de mídia, equipes do lado de fora e até contratos pré-assinados com a própria Globo. É fora da casa que o dinheiro de verdade vem.
E esse dinheiro vem de vender a própria identidade. É viver de um jeito que seja atraente para patrocinadores. Falar — e não falar — de certos assuntos. Ser de um jeito. Não é um personagem. É colocar a vida na prateleira.
Para entender tudo isso, eu chamei para conversar a Issaaf Karhawi, que é jornalista, mestre e doutora em Ciências da Comunicação pela USP e que desde 2014 pesquisa a cultura dos influenciadores digitais no Brasil. Hoje em dia ela é professora titular do Programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Paulista e pesquisadora em comunicação digital no COM+. Todo essa investigação dela virou o livro "De blogueira a influenciadora", onde ela estudou blogueiras de moda, mas como você vai ouvir no papo, serve para qualquer tipo de creator.
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