Em 2020, o ano que nunca acabou, todo mundo foi mandado pra trabalhar de casa. Se proteger do covid-19. Quer dizer… Nem todo mundo. Quem trabalhava em escritório, sentado em mesa, na frente do computador respondendo email ou escrevendo coisas com essa aqui que eu estou lendo.
Foi ruim ficar em casa. Quer dizer. Eu já trabalhei de casa outras vezes, principalmente quando eu ainda era um rapazinho do TI no início do século, programando ou cuidando de servidores. O problema era não poder sair de casa, claro. Dar banho em saco de batata palha. Enfim, você sabe, você estava lá. Mas uma coisa que eu fiz em 2020 foi… eu ousei sonhar. Que com todo mundo trabalhando em casa a gente ia passar a encarar o trabalho em si, as tarefas, as dinâmicas, de um jeito diferente. Entender que nem tudo precisa ser uma reunião com 20 pessoas. Ou que brainstorm não é o melhor sistema pra se ter ideias, porque nele acaba vencendo quem é mais extrovertido, fala mais alto.
Não foi um exercício de futurologia, foi mais uma torcida. Se bem que toda previsão de futuro tem uma boa dose de empurrão pra ver se aquilo vira verdade. Eu fiz um episódio chamado “A era dos introvertidos” pra falar sobre isso, em de maio de 2020. Eu jurava que era mais pra frente do ano, mas foi bem no início do lockdown. (como você pode ver, eu gosto de usar “a era” nos títulos das coisas… 🫠)
A gente aprendeu a trabalhar de casa, veio a vacina, um dia fomos liberados de voltar a encontrar com os coleguinhas e… Muita gente tentou fingir que agora era só voltar pro jeito que era antes. Se lá em 2020 a promessa das empresas era que aquele era o novo normal, várias começaram a partir de 2023 a exigir a volta total para os escritórios, bagunçando a vida de muita gente que já tinha se mudado pra outra cidade ou até país. Até o Zoom, provavelmente a empresa que lucrou com a mudança pra trabalho remoto, mandou os funcionários voltarem pro escritório.
Quem trabalha resistiu. Começou a procurar empregos que seguissem o remotinho. Mas nem sempre dá pra fazer isso. Hoje eu diria, em um dado zero científico, tirado do meu… olhômetro, que o modelo mais comum nos escritórios de São Paulo hoje é o híbrido, provavelmente com o povo indo pro escritório de terça a quinta.
Eu gosto de trabalhar de casa. Mas sei que tem problemas. Quando o Boa Noite Internet começou lá em 2018 eu dizia que pagava um coworking pra não ser interrompido. Era família, cachorro, interfone… Eu ia lá pra minha mesinha compartilhada, botava meu fone e espancava o teclado. Hoje a gente está 100% em casa, mas sempre que vou em uma reunião por aí dá aquela saudade do famoso ambiente corporativo. O cafezinho. Sair pra almoçar. Mas é fácil pra mim, eu sei que eu estou na famosa posição de privilégio. Eu não demoro horas de trem e ônibus pra chegar no trabalho, é um Uber de 15 minutos e olhe lá.
Eu venho falando muito dessa batalha entre os novos modelos de trabalho no meu Linkedisney e também na newsletter aqui do Boa Noite Internet. Meu problema não é com voltar ou não voltar. Eu implico é com a justificativa que os patrões dão pra volta ao escritório. Expressões meio vagas tipo "cultura da empresa" e "sinergia". Eu sei que quando eu trabalhava em firma uma das minhas armas secretas era ficar no almoço conhecendo todo mundo, cavando oportunidade, ouvindo as novidades. Mas isso é motivo pra fazer todo mundo voltar a trabalhar no escritório? O pior é que nem apresenta números de que voltar melhora mesmo a produtividade e por isso eu fico achando que é só a versão moderna daquela piada de que o gado só engorda com o olho do dono. Que os chefes não confiam nas suas equipes, ou então têm medo de que a gente descubra que, afinal de contas, as 20 camadas gerenciais não servem pra nada a não ser ficar indo na mesa perguntar se o trabalho tá pronto.
Pra falar sobre isso eu chamei hoje no Boa Noite Internet um… patrão. É o Ian Black, meu amigo lá dos tempos longínquos da internet, sócio fundador da agência de publicidade New Vegas, que segue em um modelo de trabalho remoto que a gente já vai falar. Eu chamei o Ian porque no início de fevereiro desse ano ele fez um textão no Instagram dizendo o seguinte: o retorno ao presencial não e uma questão de produtividade, mas de fragilidade masculina branca, que é onde começa o nosso papo.
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