O problema (Nação dopamina, introdução)
Nossos cérebros viraram reféns da abundância.
O contrário de vício não é sobriedade. O contrário de vício é conexão.
— Johann Hari
“Este é um livro sobre prazer.” É assim que a Dra. Anna Lembke abre o capítulo introdutório chamado “O problema”, já dando o tom do que vamos encontrar pela frente. O problema? Bom, o problema somos nós e nossa necessidade incessante por sentir prazer — e como isso acaba atrapalhando mais do que ajudando. A narrativa ocidental corrente é a de que, se eu sentir mais prazer, mais doses de dopamina, todos os problemas vão acabar. Não vamos gostar da verdade: o que Lembke mostra, com base na sua carreira cuidando de viciados clínicos, é justamente o oposto.
O desequilíbrio entre prazer e sofrimento é potencializado por um mundo transformado pela abundância. Passamos a história lutando contra o sofrimento da escassez e… deu certo! Vivemos cercados por estímulos altamente compensatórios — de drogas e comida a redes sociais e smartphones, que funcionam como o que Lembke chama de “agulhas hipodérmicas” fornecendo dopamina digital constantemente. Minha droguinha é o videogame, sempre me fazendo pensar “e se você der uma pausa agora pra só uma jogadinha?”. Literalmente agora.
Se você ainda não descobriu sua droga preferida, ela logo estará em um site perto de você.
A desgraça acontece porque a neurociência descobriu que prazer e sofrimento são processados no mesmo lugar do cérebro, como dois lados de uma balança. Quando desejamos “só mais um pouco” de qualquer experiência prazerosa, a balança já se inclinou para o lado do sofrimento.
“Nação dopamina” junta neurociência e experiência humana para encontrar os segredos do equilíbrio entre prazer e sofrimento. A autora, psiquiatra especializada em medicina da dependência e diretora da Stanford Addiction Medicine Dual Diagnosis Clinic, usa histórias reais de seus pacientes — que deram permissão para compartilhar suas jornadas de recuperação. Reconhecida por seu trabalho sobre a epidemia de opioides nos EUA e por sua participação no documentário da Netflix “O Dilema das Redes”, Lembke acabou virando uma voz importante sobre dependências tecnológicas e o impacto dos estímulos digitais no circuito de recompensa cerebral. “Nação Dopamina” foi best-seller do New York Times em 2021 e traz soluções práticas para o consumo compulsivo, juntando a ciência do desejo com a sabedoria da recuperação.
Ao longo do livro, Lembke explora os territórios da nossa relação com o prazer e o sofrimento. Ela mostra o paradoxo do hedonismo — como a busca constante por prazer nos torna incapazes de senti-lo, fenômeno que os médicos chamam de anedonia. A metáfora da balança ajuda a entender como nosso cérebro lida com prazer e dor, em um ajuste contínuo para preservar o equilíbrio. Quanto mais repetimos um estímulo prazeroso, entra em cena a neuroadaptação: precisamos de doses maiores para sentir o mesmo, até que a balança tomba para o lado da dor. A autora defende soluções como o jejum de dopamina para recuperar nossa sensibilidade aos pequenos prazeres e técnicas de autocomprometimento que criam espaço entre o desejo e a ação. Ela destaca o poder da honestidade radical e explica como ela é diferente da a vergonha. Não devemos fugir do mundo, mas mergulhar nele, encontrando sentido no cotidiano como alternativa ao vazio que preenchemos com estímulos artificiais.
Em essência, o segredo para encontrar o equilíbrio é a combinação da ciência do desejo com a sabedoria da recuperação.
Deu para ver que vai ser uma jornada e tanto, não é mesmo pessoal? Tudo bem. A gente vai estar juntos.
Até lá,
crisdias
PS: Agora que acabei esse texto, vou jogar um pouquinho. Eu mereço!
Eu até comprei um curso de "mais foco menos ansiedade" pra tentar lidar com a dopamina, o que obviamente me fez ficar mais pobre, não menos viciado. Mas pelo menos agora eu sei que preciso tomar banho gelado de manhã, pegar luz solar do amanhecer, me exercitar, não consumir álcool nem qualquer tipo de conteúdo curto, reduzir as luzes - principalmente as azuis - ao anoitecer e dormir melhor. Aparentemente é uma receita infalível, pessoal!
( ͡° ͜ʖ ͡°)
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Lembke já é carnaval