Resumo comentado: A crise da narração, parte 3
"Do choque ao like", "Teoria como narração" e "Narração como cura"
Está na hora da terceira (e penúltima) parte da nossa temporada do Clube de Cultura do Boa Noite Internet sobre A crise da narração, de Byung-Chul Han.
Os resumos comentados da vez, para depois a gente conversar nos comentários, são:
Do choque ao like, que traça uma linha desde Baudelaire até Romero Britto para mostrar como passamos de uma arte que buscava o choque para uma que busca apenas agradar. O capítulo usa conceitos de Freud e Lacan para explicar como nosso aparato psíquico mudou com nossa relação com as telas digitais.
Com as telas digitais, as pessoas se tornaram utensílios — objetos com uma utilidade específica, disponíveis para consumo. Este processo está ligado ao crescente narcisismo de nossa época: quanto mais nos voltamos para nós mesmos, menos conseguimos ver o outro como realmente é. Tudo vira Eu-Isso, que existe só para nos servir. Tudo precisa ser conveniente.
Teoria como narração, onde Byung-Chul Han explora como, na era do Big Data, abandonamos a busca por entender o mundo em favor de simples correlações entre dados. O capítulo usa exemplos da psicanálise à filosofia clássica para mostrar que todo conhecimento genuíno é, no fundo, uma forma de contar histórias. Uma conversa necessária na era em que a IA promete nos dar todas as respostas sem precisar explicar os porquês.
É por isso que a IA não consegue pensar de verdade: ela não narra, só processa. Ela não tem paixão nem autoria, só probabilidade estatística. É claro que podemos digitar um comando para a IA “soar apaixonada”, mas ela não decide que agora adora dinossauros e quer saber tudo sobre eles. A IA “sabe tudo” e, portanto, não consegue amar nada.
A narração como cura, que examina o poder terapêutico das histórias na medicina e na vida. O texto parte da observação de que a medicina moderna, em sua busca por eficiência, negligencia o papel fundamental da narrativa no processo de cura. Byung-Chul Han defende que transformar experiências em histórias não é apenas um escape da realidade, mas uma forma essencial de processar e dar sentido ao que vivemos.
Quando transformamos uma experiência em história, ela ganha nova dimensão. O ato de narrar cria distância temporal e emocional necessária para processar eventos traumáticos. Não por acaso, psicoterapeutas incentivam pacientes a construir narrativas sobre suas experiências. Ao virar história, o evento doloroso se transforma em memória — algo que já passou e agora pode ser visto com outros olhos.
Nunca é demais lembrar que o poder do Clube está nas conversas que acontecem nos comentários. Nos vemos lá.
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Até lá,
crisdias