Eu lembro que fiquei bastante confusa quando descobri, alguns anos após minha leitura de Sapiens, que Harari tinha sido cancelado. O que podia significar qualquer coisa, de "algum escritor discordou dele" até "ateou fogo em velhinhas na rua". E daí, vou confessar: não faço a menor ideia do motivo real, porque nunca fui atrás.
Se tiver de escolher, diria que sou uma pessimista otimista sobre a IA - acho que vai dar ruim, na verdade, acho que já está dando, mas não no sentido de acabar com a vida humana, e sim de aniquilar a nossa individualidade criativa, por assim dizer. Acredito que o trabalho de industrialização da cultura massificada que o capitalismo começou e vem mantendo, a IA está sustentando de maneira sublime. Tudo é uma cópia de uma cópia de uma cópia (já diria o roteiro de Clube da Luta...)
E é essa a minha maior preocupação em relação à expansão da Inteligência Artificial: estamos desaprendendo a pensar, a estruturar processos e a ser criativos. Se a criatividade surge da conexão de peças do nosso repertório cultural, e o nosso repertório começa a ser construído por cópias e pasteurizações, o que isto faz com a nossa capacidade criativa?
Tudo está cada vez mais similar, mais quadrado, mais massificado. Confiamos na IA para "facilitar" cada aspecto das nossas vidas a ponto de abdicarmos da nossa capacidade de sentar e colocar as nossas ideias no papel. É esse o meu maior receio.
É por essas e outras que falo que sou pessimista no curto prazo (concorco 100% com o que você falou), mas otimista no longo. Porque a gente percebe os buracos onde está entrando — mais lentamente do que eu gostaria, kkkkkrying — e corrige o curso.
Outro dia mesmo escrevi por aqui que a internet como conhecemos (no nosso bolso) só tem entre 10 e 15 anos. É muito pouco tempo para a "velocidade da sociedade" e livros assim têm um papel muito importante. Mas "a galerinha" prefere só desqualificar tudo o que o Yuval fala.
Chegando um tico atrasado nesse clube da cultura, mas feliz demais que vou poder acompanhar Nexus contigo, uma das poucas pessoas na (minha bolha da) internet que não crucifica o Yuval (sem precisar concordar com tudo) e vê o excelente trabalho do Graeber mais como uma extensão e aprofundamento do que uma completa destruição do Sapiens.
Adoro essa perspectiva do Yuval de analisar as coisas do ponto de vista de seres humanos como contadores de histórias. Sendo da área dos _compiuter_, tenho notado nos últimos anos uma ossificação da internet, uma crise em como criamos e difundimos narrativas por aqui. Assunto muito bem tratado no teu post recente "Entre bytes, links e watts: o consumo maluco da internet moderna". Ainda nesse assunto, fica a dica do maravilhoso texto: We Need To Rewild The Internet (https://www.noemamag.com/we-need-to-rewild-the-internet/).
Ansioso pra acompanhar os comentários dos próximos capítulos. _Xêro_ grande.
Esse "rewild" segue morando em um triplex na minha cabeça desde que eu li. Bom demais, já apareceu "literalmente" ou não em algumas newsletters. Talvez eu também tenha citado no Clube de "Resista".
“Nossos espaços online não são ecossistemas, embora as empresas de tecnologia adorem essa palavra. Eles são plantações; ambientes altamente concentrados e controlados, mais próximos da agricultura industrial de confinamento de gado ou granjas de criação intensiva que enlouquecem as criaturas presas dentro delas.”
Agora que você comentou, lembrei que descobri esse texto justamente no o clube do "Resita"!!! Ele derreteu minha cabeça de um jeito gostoso demais. É muito bom ficar ainda mais maluco mas sabendo que você não tá só.
Mais ou menos no mesmo período, vi esse video incrível do Bruno Torturra no Boletim do Fim do Mundo (https://www.youtube.com/watch?v=HWjRbeD75pk) em que ele fala um pouco sobre a morte da web wiki/colaborativa e o nascimento dos perfis. Trocamos a "bagunça" que era a internet primordial por uma experiência mais confortável e ossificada (daí o texto do Rewild entra certinho certinho aqui).
Desde então eu tenho visto TUDO no mundo por essas lentes do _reflorestamento_. Tentando pensar em novas formas de existir não só no mundo digital mas no físico também.
Eu adoro o Harari e estou feliz com a escolha do clube para esse próximo ciclo. Fiquei pensando se deveria ter lido Homo Deus antes (estava lista, mas sabe como é...). Eu estou mais tentando entender os potenciais da IA, mas por tudo que já ouvi dizer, me parece que ela será muito boa para eliminar trabalhos repetitivos, mas a intervenção humana ainda será necessária em algum momento do processo. Parece que a parte boa da IA no trabalho é usá-la como um estagiário que sempre vai precisar da revisão de um humano. O problema está na capacitação desse humano, que vai precisar ter feito aquele trabalho ao menos uma vez para para saber o que revisar, o que corrigir. Então, se a IA assumir tudo desde o início, perderemos também nossa capacidade de criticar seu trabalho e, aí sim, talvez estejamos perdidos. Então acho que to mais pessimista mesmo heheh
Eu lembro que fiquei bastante confusa quando descobri, alguns anos após minha leitura de Sapiens, que Harari tinha sido cancelado. O que podia significar qualquer coisa, de "algum escritor discordou dele" até "ateou fogo em velhinhas na rua". E daí, vou confessar: não faço a menor ideia do motivo real, porque nunca fui atrás.
Se tiver de escolher, diria que sou uma pessimista otimista sobre a IA - acho que vai dar ruim, na verdade, acho que já está dando, mas não no sentido de acabar com a vida humana, e sim de aniquilar a nossa individualidade criativa, por assim dizer. Acredito que o trabalho de industrialização da cultura massificada que o capitalismo começou e vem mantendo, a IA está sustentando de maneira sublime. Tudo é uma cópia de uma cópia de uma cópia (já diria o roteiro de Clube da Luta...)
E é essa a minha maior preocupação em relação à expansão da Inteligência Artificial: estamos desaprendendo a pensar, a estruturar processos e a ser criativos. Se a criatividade surge da conexão de peças do nosso repertório cultural, e o nosso repertório começa a ser construído por cópias e pasteurizações, o que isto faz com a nossa capacidade criativa?
Tudo está cada vez mais similar, mais quadrado, mais massificado. Confiamos na IA para "facilitar" cada aspecto das nossas vidas a ponto de abdicarmos da nossa capacidade de sentar e colocar as nossas ideias no papel. É esse o meu maior receio.
É por essas e outras que falo que sou pessimista no curto prazo (concorco 100% com o que você falou), mas otimista no longo. Porque a gente percebe os buracos onde está entrando — mais lentamente do que eu gostaria, kkkkkrying — e corrige o curso.
Outro dia mesmo escrevi por aqui que a internet como conhecemos (no nosso bolso) só tem entre 10 e 15 anos. É muito pouco tempo para a "velocidade da sociedade" e livros assim têm um papel muito importante. Mas "a galerinha" prefere só desqualificar tudo o que o Yuval fala.
Chegando um tico atrasado nesse clube da cultura, mas feliz demais que vou poder acompanhar Nexus contigo, uma das poucas pessoas na (minha bolha da) internet que não crucifica o Yuval (sem precisar concordar com tudo) e vê o excelente trabalho do Graeber mais como uma extensão e aprofundamento do que uma completa destruição do Sapiens.
Adoro essa perspectiva do Yuval de analisar as coisas do ponto de vista de seres humanos como contadores de histórias. Sendo da área dos _compiuter_, tenho notado nos últimos anos uma ossificação da internet, uma crise em como criamos e difundimos narrativas por aqui. Assunto muito bem tratado no teu post recente "Entre bytes, links e watts: o consumo maluco da internet moderna". Ainda nesse assunto, fica a dica do maravilhoso texto: We Need To Rewild The Internet (https://www.noemamag.com/we-need-to-rewild-the-internet/).
Ansioso pra acompanhar os comentários dos próximos capítulos. _Xêro_ grande.
Esse "rewild" segue morando em um triplex na minha cabeça desde que eu li. Bom demais, já apareceu "literalmente" ou não em algumas newsletters. Talvez eu também tenha citado no Clube de "Resista".
“Nossos espaços online não são ecossistemas, embora as empresas de tecnologia adorem essa palavra. Eles são plantações; ambientes altamente concentrados e controlados, mais próximos da agricultura industrial de confinamento de gado ou granjas de criação intensiva que enlouquecem as criaturas presas dentro delas.”
Agora que você comentou, lembrei que descobri esse texto justamente no o clube do "Resita"!!! Ele derreteu minha cabeça de um jeito gostoso demais. É muito bom ficar ainda mais maluco mas sabendo que você não tá só.
Mais ou menos no mesmo período, vi esse video incrível do Bruno Torturra no Boletim do Fim do Mundo (https://www.youtube.com/watch?v=HWjRbeD75pk) em que ele fala um pouco sobre a morte da web wiki/colaborativa e o nascimento dos perfis. Trocamos a "bagunça" que era a internet primordial por uma experiência mais confortável e ossificada (daí o texto do Rewild entra certinho certinho aqui).
Desde então eu tenho visto TUDO no mundo por essas lentes do _reflorestamento_. Tentando pensar em novas formas de existir não só no mundo digital mas no físico também.
Eu adoro o Harari e estou feliz com a escolha do clube para esse próximo ciclo. Fiquei pensando se deveria ter lido Homo Deus antes (estava lista, mas sabe como é...). Eu estou mais tentando entender os potenciais da IA, mas por tudo que já ouvi dizer, me parece que ela será muito boa para eliminar trabalhos repetitivos, mas a intervenção humana ainda será necessária em algum momento do processo. Parece que a parte boa da IA no trabalho é usá-la como um estagiário que sempre vai precisar da revisão de um humano. O problema está na capacitação desse humano, que vai precisar ter feito aquele trabalho ao menos uma vez para para saber o que revisar, o que corrigir. Então, se a IA assumir tudo desde o início, perderemos também nossa capacidade de criticar seu trabalho e, aí sim, talvez estejamos perdidos. Então acho que to mais pessimista mesmo heheh