Não aguento mais não aguentar mais: próxima parada do Clube de Cultura do Boa Noite Internet
Nos prometeram carros voadores.
Tentar fazer tudo ao mesmo tempo, com pouca segurança ou rede de apoio… é isso que faz dos Millennials a geração burnout.
— Anne Helen Petersen
Houve um tempo em que os millennials eram “essa garotada jovem aí”. Lembro dos meus tempos de agências de publicidade, as palestras e consultorias tentando “desvendar os millennials”, a primeira geração que cresceu com a internet e que, com armas digitais em mãos, ia mudar o mundo para melhor.
Deu no que deu. Queríamos carros voadores e acabamos com fake news em vídeos horizontais de 90 segundos. Ou, como disse o ex-funcionário do Facebook, Jeff Hammerbacher: “As melhores mentes da minha geração estão pensando em como fazer as pessoas clicarem nos anúncios”.
Chegou a hora de mais uma edição do Clube de Cultura Boa Noite Internet, desta vez com Não aguento mais não aguentar mais: Como os Millennials se tornaram a geração do burnout, lançando em 2020 pela jornalista americana Anne Helen Petersen. Um livro sobre a geração que prometia revolucionar tudo e acabou só normalizando a exaustão. Um futuro onde trabalharíamos por prazer virou uma realidade de dívidas, esgotamento e falta de perspectiva.
Anne Helen Petersen — AHP para os chegados — é autora da newsletter que, segundo as estatísticas do Substack, eu mais mandei assinantes: Culture Study que, desde 2023, também é um podcast com o mesmo nome, como a gente aqui. Em 2019 que AHP viralizou com um artigo no BuzzFeed sobre o burnout millennial que logo virou um dos mais lidos do site (fora aquele sobre um certo vestido) e a levou a escrever este livro. O BuzzFeed1, aliás, era um dos veículos considerados “a voz dos millennials”, assim como a Vice.
Adoro o estilo de Petersen, direto mas amigável, analisando a cultura atual como historiadores falam de Cícero ou Platão, mas sem nenhum tom professoral. É a amiga sentando para conversar sobre a vida — só que a tal amiga é uma tremenda de uma cabeçuda e uma das melhores escritoras do momento.
Apesar do “millennials” no título, este livro é relevante mesmo para quem (como eu) não está na faixa etária “nascidos ali nos anos 1980”. É porque não acredito muito nessa coisa de “geração” como grupos totalmente isolados. Prefiro pensar mais no “espírito do tempo” — afinal de contas, estamos juntos neste barco chamado Terra. As diferenças de vidas entre alguém com 50 e 30 anos têm mais a ver com a idade em si (cof etarismo cof) do que com a visão de “essa molecada hoje já nasce sabendo mexer com os computador tudo”. Os problemas dos millennials — crise política e econômica, decepção com o trabalho e exaustão crônica — são vividos por todos.
Ainda assim, uma das coisas que quero gastar um tempo nos resumos comentados é a diferença Brasil–EUA. É muito comum nós “da bolha” (me incluo nessa) acharmos que temos os mesmos problemas dos americanos. Mas, por exemplo, um dos temas centrais da crise millennial americana são as dívidas estudantis — contraídas para conseguir diplomas universitários que, no fim, não serviram para grandes coisas. Por outro lado, há problemas que aqui são mais extremos, como a concentração de patrimônio (principalmente imóveis) por boomers ricos.
Agenda
Sim, agenda em um livro sobre estarmos exaustos. Enfim, a hipocrisdias.
Semana 1 — Burnoutinho, seu amiguinho
Introdução
Capítulo 1 — Nossos pais com burnout
Capítulo 2 — Miniadultos em crescimento
Semana 2 — Propósito e vocação
Capítulo 3 — Faculdade, a qualquer custo
Capítulo 4 — Faça o que você ama e ainda vai ter que trabalhar todos os dias pelo resto da sua vida
Semana 3 — A uberização da vida
Capítulo 5 — Como o trabalho ficou tão merda
Capítulo 6 — Como o trabalho continua tão merda
Semana 4 — Ritmo, rotina e exaustão
Capítulo 7 — Tecnologia faz tudo funcionar bem
Capítulo 8 — O que é um fim de semana?
Semana 5 — Possibilidades de fuga
Capítulo 9 — Os pais Millennials exaustos
Conclusão — Que arda
Minhas conclusões
Você já sabe o que vem agora. Eu dizendo que a parte mais importante do nosso Clube acontece nos comentários. E, assim… Se ninguém comentar esse livro, olha… Quero ver vocês lá.
Para quem está chegando agora, o Clube de Cultura do Boa Noite Internet funciona assim. Durante a semana (quem puder, sem burnout por favor) vai lendo os capítulos da vez e anotando seus pensamentos. Às sextas-feiras mando um resumo comentado dos capítulos, para quem não conseguiu ler poder seguir na conversa — mas também colocando meu ponto-de-vista, referências, etc. E aí conversamos nos comentários do próprio post, no site.
O Clube de Cultura é exclusivo para apoiadores do Boa Noite Internet. Se você ainda não faz parte, este pode ser o momento. Apoiando agora, você tem acesso a todas as discussões anteriores: Resista: não faça nada, Quatro mil semanas, Nexus, A crise da narração, Nação dopamina, Religião para ateus e Amusing ourselves to death — além de especiais sobre Neil Gaiman e Andor.
Cuidem de si, cuidem dos seus. Até a sexta-feira.
crisdias
A foto da capa é de Nataliya Vaitkevich.
Meu ex-empregador em 2020, quando fui head of content.