Inspiração: próxima parada do Clube de Cultura do Boa Noite Internet
A inspiração existe, mas tem que te encontrar trabalhando.
— Pablo Picasso
Se tem uma imagem que eu odeio, quero eliminar do mundo, é a do “gênio solitário”, o artista atormentado no sótão, o cientista maluco no laboratório, o escritor bêbado na máquina de escrever. Romântico, pode até ser. Pena que é mentira. Mas até aí tudo bem! porque agora temos outra narrativa sobre criatividade: de que é só uma equação a ser resolvida — pelo ChatGPT.
Criatividade não é nada disso. É método e processo, é aprendizado constante, curiosidade e prática. E é, principalmente, profundamente humana.
Chegou a hora de mais uma edição do Clube de Cultura Boa Noite Internet, desta vez com Inspiração: entendendo a criatividade em uma jornada pela arte e pela ciência, onde Matt Richtel — jornalista do New York Times e vencedor do Pulitzer1 — vai desmistificar a criatividade sem tirar sua magia.
Nossa agenda está dividida em seis semanas, mais ou menos 50 páginas por semana:
Semana 1 — Prólogo, Heresias, Salto de fé, Dúvida
Semana 2 — As sementes da dúvida, O criador ganha forma, O escritor ganha forma
Semana 3 — O despontar da voz, Divagação mental, Medo
Semana 4 — O ponto de vista de um micróbio, Parábola de um astro do rock, Um físico entra em cena, Aconteceu uma coisa engraçada…, Deus
Semana 5 — Pandemia, A "chamada e resposta" da natureza, O cérebro, O segredo está nos olhos
Semana 6 — Personalidade, O treinador de basquete e o cabeça-dura, Idade, Duas pequenas histórias de guerra, Vocabulário, O ingrediente secreto, Não peça demissão, Todd, Dois passos para a frente, A Nova Jerusalém, Inspiração, Conclusão (minha e dele)
Pelos títulos, deu para ver que Richtel não é daqueles autores de autoajuda que prometem “desperte seu gênio criativo em 21 dias”. Ele investiga as origens biológicas e evolutivas da criatividade, sua conexão com religião e espiritualidade, e como ela existe em cada um de nós — só que não da forma romantizada que vemos por aí. É ciência misturada com histórias humanas, sem fórmula mágica.
Vivemos numa época em que a criatividade virou commodity — do Fiverr ao UGC, a criatividade é comprada “por quilo”, por “peça entregue”. Qualquer um com acesso ao ChatGPT se acha escritor, artista, programador. Mas o que acontece quando delegamos nossa capacidade criativa para as máquinas? Quando confundimos velocidade com inspiração? Quando trocamos o processo pelo produto? (Quem ouviu a minha conversa com o Ted Chiang sabe o tamanho do problema.)
Richtel mostra que a criatividade que transforma, que inova, que importa, nasce da fricção, do desconforto e da dúvida. Ou seja, do processo. Do “só sei o que penso quando li o que escrevi” (ou pintei, ou projetei…), como falei no podcast. Coisas que nenhuma IA consegue simular porque são fundamentalmente humanas. A máquina não duvida. A máquina não teme. A máquina é só conveniência.
Criar exige tempo perdido, pensamento errante, momentos de aparente improdutividade, o tal do ócio criativo que já passou pelo podcast anos atrás e segue mais relevante do que nunca. Só que isso vai contra o que nossa cultura de otimização e produtividade despreza. Queremos ser criativos, mas não temos paciência para o processo criativo. Sem tempo, irmão, aperta o botão e me dá a resposta.
É nessa que a gente vai pelas próximas semanas, com resumos comentados onde digo o que achei de cada capítulo, as conexões que fez na minha cabeça e, pode acontecer, as partes que discordo. Porque aqui é assim, cada um traz seu salgadinho pra conversa. Principalmente você, porque a parte mais importante do nosso Clube acontece nos comentários. E, assim… Se ninguém comentar, eu boto o ChatGPT pra escrever comentário!!!
Para quem está chegando agora, o Clube de Cultura do Boa Noite Internet funciona assim. Durante a semana, a gente lê os capítulos da vez e anota os pensamentos. Às sextas-feiras mando resumos comentados dos capítulos, para quem não conseguiu ler poder seguir na conversa. Daí conversamos nos comentários do próprio post, no site.
O Clube de Cultura é exclusivo para apoiadores do Boa Noite Internet. Se você ainda não faz parte, este pode ser o momento. Apoiando agora, você tem acesso a todas as discussões anteriores: Resista: não faça nada, Quatro mil semanas, Nexus, A crise da narração, Nação dopamina, Religião para ateus, Amusing ourselves to death e Não aguento mais não aguentar mais — além de especiais sobre Neil Gaiman e Andor.
Os primeiros resumos comentados chegam na sua caixa de entrada dia 12 de setembro. Nos vemos lá?
crisdias
Como ser genial
Todo ano, em algum lugar dos EUA, um processo totalmente secreto escolhe de 20 a 30 pessoas que receberão, sem terem pedido, uma bolsa de 800 mil dólares. A única condição, além de morarem ou terem nascido nos EUA, é as pessoas eleitas serem consideradas geniais pelo comitê secreto.
Por uma série de reportagens sobre distração ao volante.