📙 As sementes da dúvida — como a criatividade morre na infância

Resumo comentado de “Inspiração”, capítulo 4.

Toda criança é um artista. O problema é como permanecer artista depois que crescemos.
— Pablo Picasso (ou John Lennon, ou…)

Qual o papel da educação e das regras familiares na formação ou supressão da criatividade? Como podemos criar um ambiente seguro para o pensamento completamente aberto e combater o perfeccionismo? QI alto é importante?

Lembra da dúvida destruidora da criatividade do capítulo anterior? O pesquisador E. Paul Torrance¹ descobriu o momento em que ela nasce dentro de nós: aos 10 anos de idade. Ele e sua equipe mediram, a partir de 1959, o que acontece quando crianças deixam de ser máquinas de produzir ideias malucas. Entre os 9 e os 11 anos, a capacidade de gerar ideias despenca 52%. Torrance chamou o fenômeno de “abismo do quinto ano” — referência ao quinto ano escolar estadunidense.

O que acontece nesse ponto da vida não é apenas uma mudança pedagógica, mas uma transformação profunda na arquitetura mental humana. Crianças que antes pintavam bolinhas nas folhas das árvores passam a sempre desenhar troncos marrons e folhas verdes. A transição da fluidez criativa para a rigidez convencional marca não apenas o desenvolvimento infantil, mas revela como nossa sociedade molda as mentes. Essa ruptura não termina na escola, segue ecoando por toda a vida adulta, criando gerações que sabem seguir regras, mas tremem diante de uma página em branco.

A pressão para se ajustar a esse comportamento não vinha apenas dos professores, mas também dos colegas. Ideias que no terceiro ano pareciam divertidas, engraçadas, inofensivas ou vagamente conectadas agora podiam levar os professores a dizer “Sério? Não pode ser” ou os colegas a rirem. Pouco a pouco, de acordo com essa teoria, as crianças internalizavam as vozes externas que as condenavam ou zombavam delas, e, assim, desenvolviam um filtro preventivo. Uma ideia poderia até surgir, mas era rapidamente dissipada dentro do cérebro antes de chegar à boca ou antes que a caneta tocasse o papel. E se o professor achar que sou idiota? E se meus amigos acharem que sou idiota?