Anatomia de um (true) crime
Por que o gênero "true crime" é o preferido entre mulheres?
O podcast chegou para ficar. Esse foi o ano do formato. E, já tem tempo, isso não é piada!
Nos Estados Unidos, aproximadamente 55% da população com 12 anos ou mais consome podcasts pelo menos uma vez por mês. No Brasil, 51,8 milhões de brasileiros ouvem podcasts mensalmente.
Mas um gênero é o líder incontestável do mercado, a “novela das oito nove” do podcast. É o true crime — histórias de crimes reais, suas investigações e mistérios.
Só para você ter uma ideia, três dos sete podcasts mais ouvidos no Spotify Brasil em julho de 2022 eram do tipo crimes reais: Modus Operandi, Quinta Misteriosa e A Mulher da Casa Abandonada.1 O canal Investigation Discovery está entre os cinco canais com maior tempo de permanência no Brasil. Isso sem falar nos livros e adaptações para TV. As pessoas estão assistindo, lendo, ouvindo. Muito.
Até aí tudo bem. O que me espanta é que as histórias de crime são muito mais populares entre as mulheres. Em alguns podcasts, 85% da audiência é feminina. Dados do Spotify revelaram que 70% dos fãs do podcast “Sword and Scale” são mulheres entre 25 e 45 anos. No Spotify brasileiro, em 2020, mulheres representavam 75% do público de true crime.
Se você me conhece, sabe que eu preciso saber por que isso acontece e o que revela sobre nós como pessoas e sociedade.
O crescimento dos podcasts
Entre 2019 e 2024, o número de ouvintes semanais de podcasts de true crime nos Estados Unidos triplicou, indo de 6,7 milhões para mais de 19,1 milhões.
Tudo “começou” (veremos se começou mesmo) com o podcast que mudou o mundo dos podcasts: “Serial”, um programa nascido dentro do “This American Life”, onde a apresentadora Sarah Koenig investigou o assassinato de Hae Min Lee em 1999 e a condenação de seu ex-namorado Adnan Syed. Quem trabalha com podcast há muito tempo, como eu, sabe que existe “antes de Serial” e “depois de Serial”. Empresas foram construídas a partir do sucesso da série, outras precisaram ser redesenhadas. O gênero explodiu. “Serial” foi o programa mais rápido a atingir 5 milhões de downloads da história dos podcasts.
Já no Brasil, o arrasa-quarteirões foi “A Mulher da Casa Abandonada”, de Chico Felitti. Depois dele, ninguém mais precisou explicar o que era podcast para a tia na festa de família. O podcast teve repercussões no mundo real que ultrapassaram a tela. A polícia invadiu a mansão em Higienópolis quebrando uma janela. Datena cobriu o caso ao vivo no Brasil Urgente, e Luiza Mell pulou o muro para resgatar animais em transmissão ao vivo. Mas o impacto mais importante foi outro: as denúncias de trabalho doméstico análogo à escravidão aumentaram entre 67% e 123% no país após o lançamento do podcast.
Legal, mas por que mulheres são mais atraídas pelo gênero?
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