📙 Vocabulário — Qual o seu tipo de criatividade?
Resumo comentado de “Inspiração”, capítulo 23.
A criatividade é para todos nós — está em você, em mim e na vida de todo dia. É a originalidade abundante que expressamos, nas improvisações flexíveis de quem dá aula, cria os filhos, conserta o carro, atende um cliente, cuida do jardim, organiza um evento beneficente ou tenta entender por que estamos aqui.
— Ruth Richards
Durante todo o livro, Matt Richtel falou de criatividade sendo de dois tipos: c minúsculo e C maiúsculo — em inglês, “Little c” e “Big C”. O primeiro tipo, mais cotidiano, está nas pequenas invenções e soluções que surgem no dia a dia: o improviso de uma receita, uma ideia diferente no trabalho, um texto bem escrito. Já o segundo é reservado às descobertas que mudam o curso de um campo inteiro — a lâmpada de Edison, a teoria da relatividade, o rock’n’roll.
Pelo que pude pesquisar, esta separação em dois tipos nasce informalmente na psicologia. Durante boa parte do século 20, os pesquisadores estavam interessados apenas nos “grandes nomes” — artistas, cientistas e inventores que deixaram marcas permanentes na história. Era o tempo em que se acreditava que criatividade era sinônimo de genialidade. Nomes como J. P. Guilford e Frank Barron já tentavam medir o que diferenciava essas mentes, mas foi Howard Gardner quem consolidou essa visão. Em Creating Minds (1993), ele analisou figuras como Freud, Einstein e Picasso e tratou a criatividade quase como uma força excepcional, reservada a poucos. Esse modelo daria origem ao que depois seria chamado de Big C Creativity — a criatividade maiúscula, transformadora, digna de museu e de biografia.
Nos anos 1980, um novo grupo de psicólogos começou a olhar para o outro lado do espectro — o das pequenas invenções diárias. Ruth Richards, Mark Runco e David Kinney chamaram isso de “everyday creativity”, a criatividade cotidiana que qualquer pessoa usa ao improvisar uma solução, combinar ideias ou lidar de forma original com a rotina. No artigo Assessing Everyday Creativity (1988), eles contrastaram a “criatividade eminente”, de impacto histórico, com a “criatividade cotidiana”, de impacto pessoal. Anos depois, Richards consolidou o conceito na coletânea Everyday Creativity and New Views of Human Nature (2007), dizendo que a capacidade criativa é um traço humano universal — não um privilégio de gênios, mas uma forma de adaptação e expressão presente em todos nós.
Neste capítulo, Richtel vai conversar com James C. Kaufman, professor de psicologia da Universidade de Connecticut, que, com seu colega Ronald Beghetto, expandiu esta visão para quatro tipos de criatividade.
Para entendermos as coisas, precisamos lhes dar nomes. Por isso, o nome do capítulo é “vocabulário”. Quando nosso Clube de Cultura passou por A crise da narração, de Byung-Chul Han, vimos sua crítica de que a academia preocupa-se mais em catalogar o conhecimento do que tirar lições sobre a vida. Alain de Botton falou de algo parecido em Religião para ateus, da hesitação secular em dar sentido pessoal a textos clássicos.
Ser criativo é mais importante do que etiquetar quem é criativo. Por outro lado, precisamos entender os tipos diferentes de criatividade, porque cada um funciona de um jeito diferente e pode ser desenvolvido à sua maneira. Também serve para que ninguém ache que retuitar um meme (ou usar um prompt) é a mesma coisa que inventar o cubismo.
Foi por isso que Kaufman e Beghetto propuseram um novo vocabulário para a criatividade. Eles perceberam que não bastava pensar apenas em dois extremos — a genialidade revolucionária e a criação cotidiana. Entre esses polos, existe um campo vasto de expressões e intenções humanas. Assim nasceram os quatro Cs: o c míni, o c minúsculo, o C profissional e o C maiúsculo.
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