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Clube de Cultura Boa Noite Internet

Tecnologia faz tudo funcionar bem

Resumo comentado de “Não aguento mais não aguentar mais”, capítulo 7.

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crisdias
ago 15, 2025
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Esta é mais uma edição do Clube de Cultura do Boa Noite Internet para o livro Não aguento mais não aguentar mais, onde Anne Helen Petersen analisa como os millennials viraram “a geração do burnout”. Já falamos de educação, trabalho e esta semana é a vez dos capítulos sobre atenção e lazer.

Neste capítulo, veremos como as tecnologias digitais aceleram o burnout millennial, com smartphones e apps ocupando cada momento da vida, desde o despertar até o adormecer. Anna Helen Petersen também explora as mecânicas de vício embutidas nas plataformas — da dopamina dos likes ao “puxar para atualizar” —, o Instagram como fábrica de comparação social, a escassez de momentos de tédio e solitude, o caos do ciclo de notícias na era Trump (e seus paralelos brasileiros com Bolsonaro), e como ferramentas de trabalho como Slack e WhatsApp dissolveram as fronteiras entre vida profissional e pessoal. O capítulo conta como a promessa de “tornar a vida mais fácil” criou a ilusão de que “fazer tudo” não só é possível, mas obrigatório — e quando falhamos, culpamos a nós mesmos, não as ferramentas que não funcionam.

AHP abre o capítulo com o relato de um dia na sua vida hiper conectada. O primeiro som da manhã é o app de sono que monitora seus movimentos para despertar “com gentileza”. Mas antes mesmo de sair da cama, o polegar já desliza para o Instagram — não para ver o que os outros postaram, mas para conferir quantas curtidas sua foto da noite anterior recebeu. Entre o chuveiro e o café, são checagens consecutivas: e-mail pessoal, e-mail de trabalho, Slack, Twitter pelo navegador (o app foi deletado numa tentativa de se desconectar). A NPR toca na Alexa enquanto tuíta algo que ouviu, ainda de toalha.

Estou em casa, com uma cerveja, sentada no quintal “relaxando”, vendo coisas na internet, tuitando e terminando algumas edições em um artigo.

Além de tudo isso, precisa gerar conteúdo: tirar fotos do cachorro durante o passeio nas trilhas, postar no Instagram, checar quantos likes recebeu. Na academia, pedala enquanto lê artigos salvos no Pocket, mas é interrompida quinze vezes por notificações. No sinal de trânsito, o celular acusa: “Parece que você está dirigindo”. Ela mente para o aparelho. Na fila do mercado, verifica o Slack e os likes da foto do cachorro. À noite, deita querendo ler, mas acaba no TikTok, conferindo como foi seu post de mais cedo e, por algum motivo, o app da Delta para ver milhas acumuladas.

Lembra de quando a gente falava que ia entrar na internet? Agora vivemos dentro dela. Nossa vida gira em torno do telefone, sim, mas acima de tudo de telas: trabalho no computador, relaxo vendo séries ou no videogame, leio em e-books pela praticidade de não precisar segurar um livro de mil páginas. No Brasil, o cenário é ainda mais intenso: passamos aproximadamente 3h40 diárias em redes sociais — acima da média americana de cerca de 2h14.

Estudos de 2013 mostravam que millennials americanos checavam o celular 150 vezes por dia; outro estudo de 2016 falava em seis horas e dezenove minutos semanais rolando timelines, mandando mensagens e se estressando com e-mails. O bizarro é que ninguém que AHP conhece gosta do próprio celular, mas já houve uma época em que éramos fanboys de app, lembra? Hoje, todo mundo sabe que os aplicativos são criados para viciar e que nossa atenção virou insumo para as empresas, assim como tecido e metal para as fábricas dos séculos passados. As promessas utópicas da tecnologia — tornar o trabalho mais eficiente, criar conexões mais fortes, tirar fotos melhores, simplificar a comunicação — na verdade, criaram mais trabalho, mais responsabilidades, mais oportunidades de se sentir um fracassado.

“20 anos depois, todas estas coisas cabem no seu bolso.” Parecia uma boa ideia…

O que essas tecnologias fazem melhor é nos lembrar do que não estamos fazendo: quem está saindo sem nós, quem está trabalhando mais que nós, que notícias não estamos lendo.

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