Saber versus entender, eis a questão
E ainda: uma Cris Dica cinematográfica do melhor filme sobre saúde mental desde muito tempo
Eu não posso mudar o mundo, mas eu balanço.
— Juliana Linhares, Khrystal, Sami Tarik e Moyseis Marques
De alguns anos para cá o estoicismo voltou a ganhar fama como ferramenta de saúde mental. Já falamos sobre estoicismo antes de ser modinha: só devemos nos preocupar com aquilo que podemos controlar, o resto é perda de energia e tempo. Não por acaso o estoicismo explodiu em fama durante a pandemia, já que precisávamos aprender a viver com a realidade de que não somos capazes de controlar um vírus, ou até mesmo a política de saúde pública. O resultado extremo (como tudo em 2020) foi darmos banho em saco de batata palha. "Isso eu posso controlar, na minha casa esse vírus não entra!".
Um dia desta semana passei perto do computador da Anna, que estava cabisbaixa. Na tela, a notícia de uma mulher que tinha morrido no meio de (mais um) tiroteio no Rio de Janeiro, mãe de uma bebezinha com poucas semanas de vida. Horrível, mas… Pra quê?
Eu sei, eu sou um monstro.
Mais uma vez vou eu falar aqui de que no centro dos nossos problemas emocionais cotidianos está o fato de que nossas mentes evoluíram para lidar com pequenos grupos de pessoas, não bilhões. Quando leio sobre uma tragédia, seja lá onde ela for, minha mente trata como se fosse alguém da minha tribo. Se alguém morreu perto de mim, eu posso ser o próximo, na boca de um leão ou por intoxicação alimentar. Pânico, medo, incerteza.
Já hoje em dia, de que adianta eu saber que morreu uma pessoa em um tiroteio, que o José de Abreu tem bafo, ou que aconteceu um terremoto do outro lado do planeta? Qual a finalidade, utilidade, benefício de um ciclo de notícias rápidas, 24 horas por dia, me mostrando tudo o que há de errado no mundo?
O resultado é que vivemos em um constante estado de inflamação. Sempre vai ter alguma notícia ruim acontecendo em um planeta com 8 bilhões de pessoas. Não estou propondo um "Jornal só boas notícias", mas sim que parte da nossa reeducação midiática precisa passar por aprendermos a diferença entre saber e entender. Não é alienação nem virar um bobo-alegre, é ser mais esperto com o que se consome.
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