Ano passado comprei um desses filtros de café feitos em inox em vez de papel. Sustentabilidade não foi um dos principais critérios, para deixar claro. Mirei mais na praticidade de poder fazer quantos cafés (descafeinados) eu quisesse durante o dia. Adorei e cheguei a apontar o bichinho como minha "melhor compra" na retrospectiva que faço todo fim de ano aqui na newsletter.
Pois de uns tempos para cá o café tem demorado mais para passar pelo coador, a ponto de ele estar quase frio quando finalmente chega na medida. Eu devo ter feito alguma coisa errada, é claro. Não li manual nenhum, só boto pó, água e pronto. Já tentei lavar bem e coisas do tipo, mas ele nunca foi o mesmo.
Isto desponteirou minha rotina matinal, de preparar um café, comer um pão enquanto espero ele ficar pronto, sentar no sofá, computador no colo, caneca do lado, pernas cruzadas (mesmo sabendo que isso não faz bem para o meu joelho pré-idoso). Esperar o café esfriar enquanto vejo alguma coisa inútil na internet, sentir o aroma do café tomar a sala, ir dando bicadas na caneca para ver se já está no ponto certo. Depois, esperar a cafeína bater já em "posição de combate" (mãos no teclado) para começar a manhã escrevendo.
De uns meses para cá eu quebrei esta minha rotina, por vários motivos, coitado do filtro de café. Noites mal dormidas, que me fazem ficar até mais tarde são o principal motivo. A tentativa de colocar uma caminhada matinal na rotina também. Eu preciso.
Mas neste fim de semana, sábado e domingo, acordei bem cedo, o sol nascendo, sentei e escrevi uma das coisas que mais gostei de escrever já tem um tempo — que vai virar o podcast do próximo domingo. Minha rotina.
Eu falo (meio) brincando que O poder do hábito é o melhor livro de auto-ajuda do mundo e o spoiler é esse: hábitos são importantes. Só conseguimos largar hábitos ruins se colocarmos outro no lugar, não existe "força de vontade". E que devemos respeitar e cultuvar os nossos.
Muito se fala por aí de "dicas de produtividade". Pessoas "avoadas" como eu precisam delas sim, mas talvez a mais importante seja esta: prestar atenção nos hábitos para que a tarefa de criar seja prazerosa, não provação. Se a escrever é importante para mim, eu preciso fazer o resto da rotina se encaixar em volta do ato de escrever e não "vai quando sobrar tempo".
Não que eu precise virar aqueles personagens excêntricos de filme, provavelmente interpretado pelo Jack Nicholson, que não está aí para as pessoas à sua volta e vive para seus hábitos, em nome de uma criatividade super-valorizada. Calma.
É só que meus hábitos são parte de mim e por isso preciso reconhecê-los, aceitá-los e respeitá-los.
Boa semana,