Terça-feira fiz um post no Linkedisney sobre “Fazer arte é inútil porque a IA vai ser melhor que eu” e nos comentários rolou uma interação que continua morando aqui na minha cabeça.
Foi o Matheus Alonso desabafando:
Você não pode iniciar um hobby qualquer que todo mundo já começa a sugerir que você venda o que você tá produzindo. Ninguém mais pode pintar por pintar, escrever por escrever, cantar por cantar… Tudo tem que ser compartilhado e monetizado. Isso deixa todo mundo cansado e com preguiça até de exercitar a criatividade.
Vivemos em uma cultura tão centrada na produtividade e no lucro que um “elogio” é dizer que nossa expressão deveria virar renda. Uma pressão invisível pra transformar cada faísca de criatividade em negócio.
O problema não é a sugestão em si. Afinal, as pessoas geralmente estão tentando ser gentis, reconhecer seu talento. Mas existe um subtexto aí que é meio perturbador. É como se a gente só pudesse justificar o tempo gasto em algo se isso gerar dinheiro.
E sabe o que é mais doido? Essa mentalidade acaba sufocando a própria criatividade que estava sendo elogiada. Porque quando você transforma um passatempo em trabalho, as regras do jogo mudam. De repente, você não está mais fazendo aquilo pelo puro prazer de fazer. Agora tem expectativas, demandas, prazos. O espaço pra experimentação, pra errar, pra simplesmente brincar com uma ideia… esse espaço diminui drasticamente. O famoso “dance como se ninguém estivesse vendo”.
Sem falar que nem todo mundo quer ou precisa transformar sua paixão em profissão. Às vezes, o valor de um hobby está justamente no fato de que ele não tem nenhuma obrigação de ser útil ou lucrativo. É um espaço de liberdade, de autodescoberta, de fazer algo simplesmente porque te faz feliz.
Então, da próxima vez que alguém te mostrar algo que fez, que tal mudar o roteiro? Em vez de sugerir como monetizar aquilo, que tal simplesmente apreciar o ato de criação em si? “Cara, que legal que você fez isso! Deve ter sido divertido.” Às vezes, o maior valor de uma coisa bem feita é justamente não ter preço.
E quem sabe, se a gente parar de tentar transformar cada passatempo em “side hustle”, a gente redescobre o prazer de criar sem pressão. Imagina só: pintar por pintar, escrever por escrever, cantar por cantar. Sem métricas, sem engajamento, sem pensar em nichos de mercado. Só você e sua criatividade, dançando juntos por pura diversão.
Talvez fazer algo bem feito, sem querer ganhar um centavo, seja uma grande ferramenta de rebeldia. 🤔
Por hoje é só
Aproveite para conhecer o Clube de Cultura do Boa Noite Internet. Este mês estamos resumindo e comentando o livro Quatro mil semanas: Gestão de tempo para mortais.
Cuidem de si, cuidem dos seus. Até a próxima.
crisdias
Realmente esse é um toque importante mesmo, Cris. Esse seu texto me lembrou de uma frase que minha namorada me disse que leu num estudo sobre criatividade - 'a obrigação de produzir aliena a paixão de criar.' Acho que resume o ponto sobre como a pressão para produzir acaba nos afastando do verdadeiro prazer de fazer arte. É muito necessário discutirmos mais sobre isso para encontrarmos maneiras de dar espaço para a criatividade florescer, sem as amarras da obrigação.
...e foi daí que surgiu a ideia de eu fazer podcast de aquarismo #kkkrying underwater
("nossa, que aquário bonito, você sabe muito disso, por que não ganha dinheiro dando consultoria ou compartilha esse conhecimento em podcast?")