Por que a IA nunca vai fazer arte
E as perguntas que devemos nos fazer para chegar a esta conclusão.
Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro.
— Chico Science
Passei estes últimos dias lendo os primeiros capítulos de Quatro mil semanas: Gestão de tempo para mortais — o tema de setembro do nosso Clube de Cultura — e mais uma vez fico feliz em ver como às vezes aparecem livros que foram feitos exatamente para responder às perguntas que assombram nossa cabeça naquele ponto no tempo. Vai ser muito legal ver você por lá.
Esta semana um dos meus autores favoritos, Ted Chiang, falou na New Yorker sobre um dos meus assuntos favoritos, inteligência artificial, no contexto de outro assunto que adoro, arte.
O artigo já mostra que é bom logo no título: “Por que a IA não vai fazer arte.”, uma afirmação categórica e não uma pergunta evasiva. Eu brinco que não vim aqui trazer respostas, só novas perguntas, mas Chiang não está para brincadeira e manda na lata. Não vai fazer arte.
Sendo assim, a primeira pergunta que trago é: por que saber se IA é capaz de fazer arte é importante? Não estou dizendo que não é importante. Acho que a resposta tem muito a ver com acreditarmos que palavras como “arte” e “criatividade” são algumas das coisas que nos definem como humanos. Mesmo sem falar de IA: dizemos por aí que outros seres vivos no planeta são capazes de ter amor, compaixão e carinho. Mas arte não. Todos os animais que pintam quadros e coisas do tipo são logo classificados como “truques circenses”.
Só humanos fazem arte (Chico Science discorda). Ah, a arte é linda! Arte é o que nos separa dos gorilas — e das máquinas.
Ainda assim, como falei no episódio “Pense como um engenheiro; Crie como um artista”, apesar de arte ser o que “nos faz humanos”, vivemos em uma sociedade que não valoriza a arte nem o artista. Artista é vagabundo, gasta o dinheiro dos meus impostos. Buscamos na arte um ROI, return of investment. Fazer arte é “não fazer nada” ou, no máximo, um passatempo para relaxar.
Por isso minha parte “preferida” de Mostre seu trabalho!, do Austin Kleon é a seguinte:
Meu amigo John T. Unger conta uma história fantástica sobre seu passado como poeta de rua. Ele fez uma leitura de poesia e, depois, um cara foi até ele e disse: “Seu poema mudou a minha vida, cara!” E John respondeu: “Ah, obrigado. Quer comprar um livro? São cinco dólares.” O cara pegou o livro, deu uma olhada e entregou de volta a John, dizendo: “Obrigado.” A que John respondeu: “Poxa! Quanto vale sua vida?”
🥲
OK, voltemos a Ted Chiang. Afinal de contas, o que ele fez neste artigo é o que eu considero arte, uma jornada que passa por entender o que é a minha criatividade. Por onde eu começo?
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