Tem gente que nasce pra ter e tem gente que vem xeretar.
— Di Melo
Chega aí na janela da sua casa ou apartamento e fica um minuto espiando a rua. A gente vai refazer uma das brincadeiras da minha infância, de quando não tinha telefone nem tablet nas viagens de carro: o jogo da cor do carro. Cada um escolhe uma cor e ganha pontos sempre que um carro daquela cor for avistado. Logo você vai reparar que só existem 3 cores de carro no Brasil: preto, branco e prata/cinza.
Onde foram parar as outras cores?
Outro dia fomos levar o carro na revisão e o atendente contava feliz que finalmente as pessoas tinham parado com o preconceito com carros brancos — a cor dos táxis em São Paulo. De que com a popularização do Uber, estamos associando menos o branco a transporte coletivo.
Perguntei onde estavam as outras cores. Até o "vermelho Ferrari", bem popular nas minhas brincadeiras de cor-do-carro, era difícil de encontrar. Lembro de carros com vários tons de verde, laranja, azul, bege, vinho, mostarda. E, claro, o amarelo da Brasília dos Mamonas Assassinas — que no Rio era a cor dos táxis e, por isso, não era tão popular nos carros particulares.
"Ninguém compra mais essas cores" foi a resposta.Segundo a área de tintas automotivas da Basf, a mesmice cromática é um fenômeno mundial, mas a América do Sul é o continente mais careta.
Peguei o cafezinho de péssima qualidade (como deve ser em um estabelecimento deste tipo), pedi meu Uber (um Sandero prata) e voltei pra casa, é claro, pensando nisso. É o meu jeitinho.
Será que é moda? Será que o gosto do público mudou e ninguém gosta mais de carro colorido? Onde estão estas pessoas?
Em 1970 a musiquinha chamando todo mundo para ver a Copa do Mundo cantava "Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção!". Sou da geração 1982 e por isso a lembrança dessa música é a de que éramos 120 milhões em ação. De lá pra cá quase dobramos de população, 203 e uns quebrados segundo o Censo de 2022. Em ação.
Não foi só a população que aumentou, a quantidade de carros também. É só andar na rua e pegar um engarrafamento para ver, claro, mas toma aí os dados. Em 1970 foram produzidos 416 mil carros. Em 2019, mais de 2 milhões e 700 mil — seis vezes mais. (o recorde é de 2013, com 3.802.071)
Ninguém compra carro colorido? Unzinho? Aumentou o público, tipos diferentes de pessoas passaram a comprar carro, muita gente passou a ter mais de um automóvel e… ninguém quer carro que não seja branco, preto ou prata? Nem mesmo nos níveis que se vendiam em 1970 — e que, portanto, eram em quantidade suficiente para justificar a produção?
Eu tenho aqui minhas explicações para o fenômeno do sumiço das Brasílias amarelas.
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