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O paradoxo do fim do mundo
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O paradoxo do fim do mundo

Não se preocupe, ele não vai acabar. Mas se você não se preocupar, ele vai acabar sim.

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crisdias
jan 22, 2025
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Existem apenas dois ramos de negócios que chamam seus clientes de usuários: traficantes de drogas e empresas de internet.
—

Ted Gioia

“Tempos sombrios estão chegando”. Vi e ouvi esta frase de jeitos diferentes por conta da posse de Donald Trump. Seus discursos radicais fazem parecer que tudo está perdido, que o mundo vai acabar, que talvez o melhor seja desistir, se alienar, se entregar.

Se pegássemos uma máquina do tempo em direção ao passado, parando a cada 50 ou 100 anos, veríamos uma em comum entre todas as sociedades e, provavelmente, até mesmo mais e mais no passado, até os tempos em que éramos só bolhas de aminoácido flutuando no oceano. A narrativa de que o fim está próximo. O mundo em perigo, a sociedade ruindo.

Spoiler: o mundo não acabou.

Em 2020, parecia que agora vai e o mundo ia acabar mesmo, nas mãos do vírus ou pela incompetência dos políticos. A palavra do ano do dicionário australiano Macquarie Dictionary foi “doomscrolling”, o ato de ficar rolando os feeds vendo uma infinita sequência de coisas ruins. Só que lembro de quando eu era criança e minha mãe ligava a TV para ver o noticiário (o “repórter”) e dizia: hora de ver as desgraças do dia!

Por isso, quando vejo pessoas queridas aqui no Brasil e nos EUA perdendo literalmente o sono com o segundo governo Trump, meu instinto é dizer “calma, não adianta nada agir assim”. O mundo não vai acabar e sempre achamos que o fim estava próximo. Vai dar certo.

Mas se ninguém se preocupar, não é aí que o mundo acaba de vez?

Verão em Berlim

Quando William Dodd chegou a Berlim como embaixador americano em julho de 1933, a cidade parecia normal. Sua filha Martha escreveu sobre a primeira noite na cidade: ruas tranquilas, árvores frondosas, nenhum sinal de soldados ou polícia. Tudo parecia “pacífico e romântico”.

Mas com a ascensão de Hitler, a Alemanha sofria um espasmo de violência. As Tropas de Assalto (os storm troopers originais) prendiam, espancavam e matavam comunistas, anarquistas, socialistas e judeus. O governo controlava a imprensa. Criava prisões e centros de tortura. E mesmo assim, parte do mundo preferia não ver.

O então recém-empossado presidente americano Franklin D. Roosevelt disse a Dodd que a perseguição aos judeus na Alemanha era “lamentável”, mas um assunto interno alemão. O conselheiro presidencial Edward M. House (o “Coronel House”) chegou a dizer que os judeus tinham parte da culpa por “dominarem a vida econômica em Berlim”. Já Charles Crane, um influente filantropo americano, foi além: disse a Dodd para “deixar Hitler fazer do jeito dele”. Até mesmo a comunidade judaica americana se dividia: alguns defendiam protestos públicos, outros temiam que manifestações só piorariam a situação dos judeus alemães. O fim dessa história você sabe.

E se o doomscrolling for o que nos mantém vivos?

Um lindo bosque verde é um dos grandes sinônimos de paz e tranquilidade. Só de ler esta palavra já dá para imaginar a cena e relaxar. O sol passando entre as folhas, pássaros cantando nos galhos. Mas, de repente, um barulho. Um galho seco estala no chão. Em um instante, dezenas de asas batem e os pássaros somem no céu. Eles estão certos. Pode não ser nada, mas os que ficaram para conferir o que era aquele barulho podem não viver para contar história (e passar seus genes de “calma, gente” adiante).

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