Escritores de ficção científica têm uma (maravilhosa) visão de que nós humanos somos "prisioneiros do tempo", vivemos sempre no presente tentando agarrar passado e futuro. Dizem eles (quem sou eu pra discordar) que nada na física diz que precisa ser assim. É a premissa do maravilhoso conto (que virou filme) A Chegada, de Ted Chiang.
Fiquei pensando aqui que somos presos ao presente porque achamos que o que está aí, o que existe agora, é permanente e nunca vai mudar. Não adianta os filósofos dizerem que a única constância é a mudança, olhamos para "as coisas como estão" e confundimos com "as coisas como são". Nada é, tudo está. "Já era, acabou, o mundo está perdido, olha só" — e aponta pela janela, da casa ou do navegador.
O mundo online parece meio perdido, com desinformação, ansiedade por excesso de telas, crises e autoestima. Mas esta internet que conhecemos — em "redes sociais" que rodam em telefones — tem pouco mais de 10 anos. O primeiro iPhone foi lançado em 2007, mas ele nem tinha o conceito de apps, ainda era "um computador de bolso". Os celulares só se popularizaram, chegando na mão de "todo mundo" depois de 2010. É muito pouco tempo.
Apesar de tecnicamente não ser muito diferente, antes disso a internet era outra: só quem tinha dinheiro para ter um computador com "provedor de internet". E o computador ficava em casa, não ia com a gente para todo lugar, com notificações e feeds.
A internet como conhecemos tem pouco mais de 10 anos. É muito tempo para nossas mentes humanas, mas é pouco tempo para a história. Não é o fim. A humanidade "não está perdida para todo o sempre" nas fake news e radicalismos. As sociedades se adaptam — não com a suavidade e velocidade que gostaríamos, mas se adaptam. Nós aprendemos.
Para isso, é claro, precisamos entender como as coisas funcionam. Os mecanismos da mídia como um todo. As engrenagens políticas. Nossos vieses cognitivos. Incluindo conseguir ver todas as maneiras existentes de se lucrar com estes nossos medos.
Mas estamos aprendendo. A internet vai mudando, a gente com ela. Vamos criando hábitos e defesas para não enlouquecer, para o mundo não "acabar". É por isso que digo que sou pessimista no curto prazo e otimista no longo. Vai rolar. Vai dar certo.