Meio como epistemologia
Resumo comentado, “Amusing ourselves to death”, capítulo 2
A pessoa mais inteligente na sala é a sala.
— David Weinberger
Você conhece o vídeo que eu sei. É de 2014. Duas primas, Wanessa (então com 7 anos) e Geovanna (5 anos), em casa.
Um momento caseiro, uma brincadeira que deu errado e, literalmente, um forninho caindo. Mas a frase “Eita, Geovanna! Mãe! O forninho caiu!” ganhou vida própria — e você deve usar até hoje, em contextos sem nenhum forninho. O forninho virou metáfora para qualquer coisa que desaba na vida. Wanessa e Geovanna viraram as filósofas da década.
É isso que Neil Postman chama de “ressonância” — pegando emprestado o termo do crítico literário Northrop Frye. Uma ideia, palavra ou imagem começa em um contexto específico e limitado, mas depois “sai do controle” desse contexto original, ganhando significados universais. As pessoas se conectaram com aquela história absurda porque reconheceram nela algo maior.
Por que algumas ideias “grudam” e outras não? Por que certas expressões atravessam gerações e outras morrem no mesmo dia? A resposta tem a ver com o poder de ressonância — a capacidade de uma ideia unificar e dar sentido a experiências diferentes.
Postman vai além de Frye e afirma que todo meio de comunicação tem ressonância e sai do seu uso inicial. Não são apenas frases ou personagens que ganham significados universais. Os próprios meios pelos quais nos comunicamos moldam nossa consciência e nossas instituições sociais. Eles se infiltram em nossos conceitos de piedade, bondade, beleza. E, principalmente, estão sempre envolvidos nas formas como definimos e regulamos nossas ideias de verdade e poder.
Um tweet, um e-mail, uma conversa de WhatsApp, uma carta manuscrita, um podcast, um vídeo no TikTok — cada um desses formatos carrega não apenas uma mensagem, mas uma filosofia inteira sobre como a verdade deve ser comunicada. E nós, sem perceber, absorvemos essas filosofias junto com o conteúdo.
Tá, mas por que o capítulo tem esse nome cabeçudo — “Meio como epistemologia”? (ou Mídia como epistemologia)
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