Pesquisadores do MIT Media Lab publicaram um estudo que usa eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade cerebral durante tarefas de escrita. A conclusão é de que quem usa ChatGPT apresenta conectividade neural dramaticamente reduzida — apenas 42 conexões na banda alfa do cérebro, comparado com 79 conexões em quem escreve sem ajuda. Calma que piora: 83% dos usuários de IA não conseguiram citar trechos dos próprios textos minutos após escrevê-los, contra apenas 11% no grupo que trabalhou sem assistência.
A pesquisa introduz o conceito de “dívida cognitiva”: quando terceirizamos processos mentais para a IA, enfraquecemos sistematicamente nossas habilidades fundamentais de pensamento. A líder do estudo, Dra. Nataliya Kosmyna, correu para publicar os resultados antes mesmo da revisão por pares, temendo que políticas educacionais precipitadas implementem “jardins de infância com GPT”, o que seria “absolutamente ruim e prejudicial” para cérebros em desenvolvimento, segundo ela.
O LinkedIn foi à loucura. Se tem duas coisas que funcionam muito bem por lá são: falar muito mal de IA e falar muito bem de IA.
O estudo (sério, que precisa ser feito) é o famoso “provou o que a gente já sabia”. Usar menos o cérebro para tarefas intelectuais vai deixá-lo mais “atrofiado”, é claro. Mas o que isso revela sobre nós? Somos preguiçosos? Um dia vamos virar aquele pessoal lá do filme Wall-E? (porém magrinhos, porque a Pixar não contava com aquela canetinha emagrecedora)
Longe de mim defender app ou empresa, mas é que profissionais, se pudessem, não usariam ChatGPT. Criaram tudo do zero, artesanalmente, até aquele e-mail “pra ficar todo mundo na mesma página”. É só que vivemos em um sistema de trabalho onde inteligência conta menos do que produtividade. Não somos pagos para ficarmos mais inteligentes, mas para entregar.
Vivemos a era de maior prosperidade financeira da história da humanidade, mas temos desemprego, insegurança, precarização e a narrativa de que se não trabalhamos 16 horas por dia, alguém (humano ou máquina) vai tomar nosso lugar e não vamos conseguir pagar as contas.
Junte a isso a consciência cada vez maior de que temos “bullshit jobs” — os trabalhos sem sentido ou propósito real, que existem apenas para manter a aparência de produtividade, mas não agregam valor genuíno à sociedade, conceito do antropólogo David Graeber — com empregos que fariam os mais burocráticos personagens de Kafka terem pena de nós. A pandemia (e o que veio depois) deixou a sensação de que, por mais que sejamos competentes, ou esforçados, isso nem vale tanto assim. Nossas ideias são ignoradas. O relatório que levou uma semana para ser feito é lido em 1 minuto (com sorte). No fim, a decisão vai ser tomada com base em critérios onde não tivemos nenhuma participação. Quem entregou um projeto incrível foi mal avaliado por fechar a câmera durante uma reunião. E, claro, na próxima vez em que a ação da empresa cair, vai aparecer uma consultoria indicando demissões em massa como solução.
Estamos totalmente desamparados com nossas carreiras. Entendemos que somos só os tais dos “recursos humanos”. Ninguém está feliz. Portanto, ninguém se importa. Só queremos entregar e ir pra casa.
Se é assim, quando um aplicativo promete fazer em segundos o trabalho de horas, “exercitar o cérebro” é só luxo. Usar ChatGPT não é preguiça intelectual. É sobrevivência — ou só descaso mesmo. É dizer pro mundo “e daí? não ligo”.
A maioria das conversas que vejo sobre IA foca no técnico, no prático. Se ela acerta ou alucina, se a mão tem a quantidade certa de dedos, se o “vibe coding” funciona. Já eu gosto mais de pensar no que a IA fala sobre nós, como indivíduos e como sociedade.
Falar irônica ou profeticamente “não use a IA, ela te deixa mais burro” é como dizer para um agricultor não usar o arado porque ele atrofia o bíceps. Como se ele tivesse escolha.
Eu trabalho como UX designer e está impossível acompanhar o ritmo sem usar AI. Eu particularmente odeio fazer análise de entrevistas ou testes de usabilidade com AI mas não tem como não usar, a galera quer tudo pra ontem :(