Como o trabalho ficou tão merda
Resumo comentado de “Não aguento mais não aguentar mais”, capítulo 5.
Deixado sozinho e sem supervisão, o capitalismo não é benevolente.
— Anne Helen Petersen
Uma pessoa com um emprego deveria ter o suficiente para viver com dignidade, certo? Não precisa viver no luxo, mas conseguir pagar as contas e pensar na aposentadoria. Houve uma época em que isso era verdade, mas ao longo das décadas finais do século 20 tudo começou a mudar e chegamos ao ponto onde pessoas por todo mundo, não só nos EUA, trabalham a semana toda e não tem o suficiente para cuidar da família. Ao mesmo tempo, nunca as empresas valeram tanto e os negócios estão melhores do que nunca.
(Som de fita rebobinando, visual de túnel do tempo, narrador “Vocês devem estar se perguntando como eu vim parar nesta enrascada…”)
Nos anos 1970, as agências de empregos temporários começaram a vender uma ideia sedutora para as empresas americanas e também para os trabalhadores. Uma maneira de “complementar a renda”, especialmente para donas de casa que agora poderiam fazer um dinheirinho extra para comprar paninhos e Tupperware.
Um anúncio da época prometia que o funcionário temporário nunca tiraria férias, nunca pediria aumento, nunca ficaria doente no horário de trabalho, nunca custaria rescisão ou aposentadoria. Era o funcionário perfeito: descartável, barato e sem direitos. O que parecia uma solução prática para cobrir férias transformou-se no modelo para o trabalho contemporâneo e qualquer semelhança com os patrões em 2025 felizes que a IA não pede aumento é mera consequência.
Esse movimento transformou risco trabalhista em risco individual. Antes, a empresa assumia os custos de ter funcionários — afinal, pessoas adoecem, têm filhos, envelhecem. Agora, cada trabalhador carrega sozinho o peso da própria instabilidade. O modelo espalhou-se mundo afora. No Brasil, conhecemos bem essa história: a pejotização e agora a uberização com o nome bonito de gig economy, onde você não é explorado, é empreendedor de si.
A promessa era que trabalhadores temporários — os temps — forneceriam flexibilidade sem parecer anti-sindicato. As empresas diminuíam custos e transferiam responsabilidades.
Surge então o precariado — contraponto direto ao proletariado clássico. Se o proletariado (proletariat) tinha alguma estabilidade na sua condição operária, o precariado (precariat) vive na corda bamba permanente.
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