Até onde vai a arrogância paulistana? [É Sobre Isso #15]
Deus me livre não ser brasileiro.
Eu vou contar como este episódio do É sobre isso nasceu. Estávamos eu e Cata no Hacktown, em Santa Rita do Sapucaí, sudoeste de MG, provavelmente caminhando de um ponto de palestras para outro. Até que alguém, uma terceira pessoa, disse “ah, esse evento podia ser em São Paulo, pra gente não precisar pegar estrada”.
Por que tudo precisa ser em São Paulo? Por que toda essa concentração de pessoas, renda, ideias e também do calendário? Como carioca-em-São-Paulo há mais de 15 anos, vejo todo dia como São Paulo acha que o mundo — e, especialmente, o Brasil — vive pelos seus códigos e aspirações. Esta cidade foi muito generosa comigo, mas o Brasil não é São Paulo, São Paulo não é o Brasil. E tá tudo bem.
Tudo isso deu no episódio da vez do É sobre isso, o podcast que é uma co-produção da Ampère e da Beet que fala sobre os desafios de se comunicar neste quarto de século 21 — pro Brasil todo. Eu,
, Catarina Cicarelli e Gui Pinheiro falamos da São Paulo que centraliza tudo, o mercado, a cultura, os eventos, os holofotes. Mas também tem o Brasil que se movimenta fora do eixo, criando, inovando e resistindo — muitas vezes sem plateia, sem crachá e sem palco de LED.A conversa passa pelo fetiche do “sotaque neutro” (spoiler: não existe), pela arrogância do “aqui que as coisas acontecem”, o rádio que 80% dos brasileiros ainda ouvem todo dia, o Pix Troco, o crochê no botijão de gás e até o Paulo Vieira sendo um espelho que não alisa o ego paulistano. (Esse é o Ano do Paulo Vieira no Brasil™, anote.)
Tem dado, tem bastidor, tem desabafo e também a grande pergunta: será que a gente — a gente mesmo, que trabalha com comunicação, inovação, tendência — não tá olhando pro Brasil com filtro de Instagram e referência de gringo? Será que a gente está de verdade disposto a ouvir o país que fala fora do nosso feed?
Então fica aí o convite para entrar no papo, deixar a soberba em Santa Cecília e pegar estrada — literal ou metafórica — rumo ao resto do Brasil. E, quem sabe, parar de achar que o Brasil precisa funcionar como Pinheiros, que inovação precisa de rooftop e que o Brasil profundo é “pitoresco”.
Porque Deus me livre não ser brasileiro.
poxa, mas a Santa Cecília nem de longe é o pior de SP
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