Domingo tem eleição. Não sei em quem você vota nem onde você vota. Mas aposto que, assim como eu, você não vai votar pelo que o candidato ou candidata propõe, pela capacidade técnica e talvez nem mesmo pelo histórico.
Por quê?
Porque você não vai votar em um candidato. Você vai votar em você. Eu vou votar em mim.
Afinal de contas, nossa vida hoje é comandada pela nossa identidade: por quem acreditamos ser e como contamos isso pelo mundo. Votamos, então, para reforçar esta identidade — com os outros, mas também com quem nos vemos no espelho.
“Eu não posso ser visto votando em tal candidato.”
“Eu não quero me ver como o tipo de pessoa que vota em tal candidato.”
No passado, votávamos porque aquele candidato ia acabar com a corrupção, ou dar mais empregos, ou porque tinha um bom plano econômico — ou não votávamos porque ele não fez as coisas que prometeu. Votávamos na visão de país ou de cidade. Agora votamos na visão que temos de nós mesmos e como aquela figura pública contribui para ela.
Hoje em dia, mesmo que não existissem fake news, nem sabemos direito se o candidato fez ou não fez. Porque só importa o que ele representa.
Eu sei o que você está pensando. “Calma Cris, também não é assim. Não dá pra apoiar quem certa vez votou contra/a favor disso”. Ou “Você tá maluco em votar em quem saiu em uma foto com certa pessoa.”
Eu voto em quem eu gostaria de ser, ou quem acho que sou. E, repetindo, quando falo “todo mundo”, estou nessa também. Aqui na minha cidade, olho para certos nomes e penso “não dá, né? não posso votar assim”. Eu até acho que estou votando na proposta, mas só estou mentindo para mim mesmo. Vou votar tendo lido zero unidades de plano de governo. Vou votar no que se espera de mim.
Lembra que eu não sei no que você acredita e nem onde você mora, então sinceramente não estou tentando mudar seu voto. O que eu quero é — como sempre, quem me segue sabe — tentar fazer você ver o mundo com uma lente diferente.
Quantas decisões você toma não porque são as melhores, mas porque reforçam quem você acha que é? Ou pior, quem você acha que deveria ser?
A urna virou um espelho. E talvez isso explique muito sobre nossa polarização atual. Não estamos discutindo ideias, estamos defendendo identidades.
Vote bem, vote em paz. Porque no fim das contas, a verdadeira questão não é apenas em quem você vota, mas por que você vota. E talvez, só talvez, refletir sobre isso possa nos levar a decisões mais conscientes — não apenas nas urnas, mas em todas as esferas da nossa vida.
Ah! E lembre-se de uma coisa: na real, quem manda na cidade (e no país) é o legislativo. Escolha bem seu voto para vereador.