📙 A ordenação do território
Resumo comentado de "A sociedade do espetáculo", capítulo 7.
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.
— Chico Buarque
Quando viajamos pelo Brasilzão, eu e Anna gostamos de ficar caminhando meio sem rumo pelo centro da cidade — seja uma capital ou cidadezinha quase na fronteira. Gostamos de ver “as lojinhas” e também a arquitetura que mostra as origens culturais da região.
Cada vez mais temos comentado como as cidades estão ficando iguais. Os lançamentos imobiliários seguem o mesmo padrão “quero morar em Miami”, os prédios comerciais são torres de vidro e os shoppings têm as mesmas lojas de rede de sempre ou, no máximo, uma multi-marcas agregando produtos de grandes marcas. O comércio de rua ainda resiste, mas, ainda assim, visualmente, as lojas são iguais, vendendo os mesmos produtos. Muda o mascote ou a cor, mas são, na prática, as mesmas lojas.
Não é só no Brasil. O consultor alemão Igor Schwarzmann percebeu que, ao usar o Foursquare (sdds) para encontrar cafeterias em suas viagens de negócios, acabava sempre nos mesmos lugares — mas não eram franquias. Eram estabelecimentos independentes em Odessa, Pequim, Los Angeles e Seul que haviam, de forma independente, adotado a mesma estética, com mesas de madeira rústica, tijolos aparentes, lâmpadas Edison. Você sabe do que estou falando, a imagem apareceu na sua cabeça agora.
O jornalista estadunidense Kyle Chayka contou a história de Schwarzmann em um artigo e batizou esse fenômeno de “AirSpace” — um território global e homogêneo onde você pode viajar milhares de quilômetros sem nunca sair do mesmo ambiente. O capitalismo do século 20 prometeu liberdade de escolha e expressão individual. No fim, deixou o mundo todo igual.
Guy Debord previu essa colonização do território em 1967. No capítulo VII de A sociedade do espetáculo, ele descreve como o capitalismo unifica e banaliza o espaço. Na tese 165:
