Boa Noite Internet

Boa Noite Internet

Clube de Cultura Boa Noite Internet

📙 A negação e o consumo na cultura — Quando a cultura deixou de ser vida?

Resumo comentado de "A sociedade do espetáculo", capítulo 8.

Avatar de crisdias
crisdias
dez 20, 2025
∙ Pago
e80e3379.webp

Lembro coisas de outros tempos. De quando a mercearia não tinha luzes de néon. Quando o paraíso não tinha marquise.
— Kevin Johansen

Em setembro de 2025, a revista The New Yorker publicou o ensaio “A inteligência artificial está vindo pegar a cultura”. O texto de Joshua Rothman argumenta que, quando máquinas podem gerar sem esforço o conteúdo que consumimos, o que sobra para a imaginação humana? É uma pergunta que Guy Debord teria reconhecido imediatamente, ainda que escrevendo quase seis décadas antes. Para ele, o problema não era a tecnologia em si, mas o que acontece quando a cultura se transforma em mercadoria para consumo passivo, a arte deixa de ser linguagem viva e vira objeto de contemplação espetacular, e até a crítica ao sistema é absorvida e vendida de volta para nós como produto cultural.

1455739c.webp

O argumento central do capítulo 8 de A sociedade do espetáculo é de que a cultura moderna está em crise porque se separou da vida. E todas as tentativas de resolver essa crise, da arte de vanguarda à sociologia crítica, fracassam porque acontecem dentro das regras do próprio espetáculo. A única saída é a negação prática, a ação revolucionária que não apenas critica o sistema, mas o destrói.

Debord abre o capítulo definindo cultura como “a esfera geral do conhecimento e das representações do vivido”. Cultura deveria ser como vivemos e entendemos a vida, mas algo aconteceu no caminho. Ela se separou e virou uma coisa à parte, uma “divisão do trabalho intelectual”. Ele cita Hegel:

A cultura desligou-se da unidade da sociedade do mito, “quando o poder de unificação desaparece da vida do homem, e os contrários perdem a sua relação e a sua interação vivas e adquirem autonomia.”

Nas sociedades antigas, mito, arte, religião e vida cotidiana formavam um todo. Não havia “ir ao museu” ou “consumir cultura”. A cultura era simplesmente como se vivia, como na analogia dos peixes que não sabem o que é água de David Foster Wallace — que aparece por aqui em praticamente toda temporada do Clube.

Avatar de User

Continue lendo este post gratuitamente, cortesia de crisdias.

Ou adquirir uma assinatura paga.
© 2025 crisdias · Privacidade ∙ Termos ∙ Aviso de coleta
Comece seu SubstackObtenha o App
Substack é o lar da grande cultura