A era da pós-confiança
Fake news? Até aí tudo bem! Ou: como, para mim, Fallout é uma série sobre (falta de) confiança no mundo.
A maneira mais segura de ver o âmago de uma cultura é observar suas ferramentas de conversação.
— Sean Illing
Boas-vindas ao Substack! Se tudo der certo, você não notou diferença nenhuma. 😬
Este domingo o podcast volta, para falar de home office. O sonho acabou? Para falar sobre tudo isso chamei meu amigo Ian Black, patrão na agência de publicidade New Vegas, que vem funcionando na base do sistema "é home-office, mas se quiser ir pro escritório pode" com sucesso.
A era da pós-confiança
Me considero um cara mais Elder Scrolls do que Fallout no cânone de jogos da Bethesda. Joguei Fallout 4, durante o lockdown passei muitas horas andando pelo mundinho online do Fallout 76 (triste porque nenhum amigo quis se juntar), mas o que faz meu coração bater de verdade é Skyrim, um dos top 5 jogos da vida, fácil.
Já a Anna é uma das pessoas mais anti-joguinho que conheço. No fim do ano ela chegou a arriscar jogar um MMO comigo e com nossas filhas, mas… ela não tem jeito pra coisa mesmo não. Foi assim que sentamos para ver a série Fallout, do Prime Video. Eu sabendo muita coisa, ela zero. E nós dois gostamos muito — no momento em que estou escrevendo isso ainda faltam 2 episódios para o fim, não estamos bingezando.
A série é boa e a parte que mais me impressionou foi como eles se esforçaram para deixar o mais parecido possível com o jogo, até nas coisas que ficariam esquisitas demais, como o stimpak, seringa que recupera a vida no jogo, um conceito bizarro demais para quem está tentando passar realismo. Ou como o primeiro diálogo da personagem Lucy é ela lendo sua ficha de personagem. A série abraça totalmente sua origem e isso fica ótimo.
Fallout fala de vários temas. Guerra, é claro. Família. Ideais. Cada personagem principal aborda o mundo de um jeito bem rpgzístico. Lucy é a típica lawful good, boazinha, segue as regras. O Necrótico é seu oposto, mau, cruel, "vê o mundo como realmente é" — ou pelo menos é o que acha. Maximus é um grandessíssimo de um fdp, que só pensa no que é bom pra si. Mas… o mundo inteiro é assim.
Eu costumo dizer já tem algum tempo que existem dois mundos vivendo em choque: o que eu gostaria que fosse, e o que realmente é. Nisso eu sou a Lucy. "Vamos conversar para nos entender" e plau rasteira e dedo no olho, roubam tudo o que você tem. Volta pra sua bolha, querida. (Mas, é claro, lá na bolha as pessoas estão descobrindo que nem tudo é perfeito. Porque nada é.)
Eu sei que a confiança não é algo que se ganha fácil por aqui. Mas pode confiar em mim. Eu venho de um lugar onde o pior que alguém pode fazer é esquecer de dizer "obrigado".
Entre o quarto e quinto episódio, Lucy começa a entender que as bombas destruíram cidades, mas também destruíram a confiança das pessoas. Não se pode confiar em ninguém. É um fato da nova sociedade e tentar agir com franqueza radical não vai adiantar. A (boa) vontade de um indivíduo não resolve nada. O bem não vence o mal.
Que é exatamente o ponto em que estamos vivendo no nosso mundo aqui fora.
Quando Trump foi eleito em 2016, bombou a expressão "pós-verdade". As vendas do livro 1984 dispararam — e não pararam, acabei de ver aqui na Amazon que ele é um dos livros mais presenteados da loja. As pessoas começaram a agir como se a verdade fosse uma questão de opinião, não de fatos. Eles estão cegos e não conseguem ver a verdade.
Continue a leitura com um teste grátis de 7 dias
Assine Boa Noite Internet para continuar lendo esta publicação e obtenha 7 dias de acesso gratuito aos arquivos completos de publicações.